quarta-feira, 31 de março de 2010

As mulheres e seus cabelos

Às vezes eu estou na calçada sem fazer nada de importância (probabilidade média), e às vezes existe uma menina na minha frente. Pode acontecer de o calor bater (probabilidade alta), e não é com dificuldade que ela tira uma liga de lugar nenhum e se põe a amarrar o cabelo. Não é uma complicação fazer um rabo de cavalo? Já de início tem que arranjar um lugar para a liga, que em geral fica na boca, uma alternativa de higiene e sensualidade tremenda, juntar todo o cabelo, colocar a liga na mão, passar o cabelo por dentro dela, esticar bastante para não ficar frouxo, girar a liga, passar o cabelo de novo... As mãos se mexem em todas as direções, a liga vira e desvira com uma facilidade elástica, a cabeça permanece imóvel, os dedos se esticam, se fecham, envolvem o cabelo, os fios balançam prum lado, pro outro, não dá pra ficar tonto? Um rapaz um pouco idiota poderia nunca ser capaz de aprender a amarrar um cabelo, não precisa, nunca precisou, ele nem presta atenção. Para uma mulher é intuitivo: deslizar a mão aqui, fazer carinho, apertar bem forte, sacudir. Se os homens abdicaram desse valor pelo bem da guerra, pelo mal dos inimigos e sua chance de puxar-lhes os cabelos, as mulheres fazem dele uma dádiva, o cabelo é tão macio quanto se é doce, tão liso quanto se gosta de cantar, tão escuro quanto torta de limão agrada o paladar.

sábado, 27 de março de 2010

Os Furúnculos ou Uma moça desinibida

Sem ser negra mas rscura como chocolateAssim que estralei a coluna, perguntei a mamãe:
– Quer ver?
– Quero sim! – mas essa minha mãe é tão besta que se endireitou toda pra pôr os óculos e ler com uma entonação vergonhosa, bem ao estilo para-de-ler-assim-mãe. Findas as besteiras, dei continuação à história.
– Dois dias depois, eu a vi de jaqueta jeans. Perguntei se tava tudo bem, né, mas ela disse que só tava usando a jaqueta por causa do frio.
– E ela existe?
– Hã?
– Você viu de verdade uma menina com esses negócios?
– Vi, mãe! Claro que ela existe! Tu tava achando que ela era invenção minha?
– Aaaahhh, então essa menina é real!
– Mãe, eu ia inventar a maior fábula pra explicar a aparição de uma espinha? – ela riu. – Se fosse assim, seriam muitas e muitas páginas pra justificar todos essas protuberâncias na minha cara!
– Então todas as tuas historinhas são reais?
– Mã-ãe...