quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Cansei de ser

Esses dias de férias têm sido dias de preguiça. Não sei o que me abateu, mas de repente tudo não me encanta, tudo me cansa, meus músculos doem e a cabeça pesa. De pegar o telefone não tenho coragem, ligar o computador é um suplício, e aí entra você me perguntando o que raios eu venho fazendo das minhas férias. Eu gosto de ação, de não ficar parada (mas gosto de brincar de estátua!), de viajar e conhecer lugares, de sair todos os dias e conversar, conversar, conversar por horas a fio.
Aí entra essa preguiça que não me deixa fazer nada, e me engana dizendo que não, eu não estou com vontade de fazer nada.
Talvez seja cansaço por toda a atividade desse ano todo, todas as duas faculdades, os cursos, as novidades, as viagens, as tagarelices e as extroversões.
Ou quem sabe é só minha verdadeira realidade batendo à porta: ei, quem disse que você é tão saidinha assim, hein? Pode tratar de ficar em casa e encarar seu verdadeiro eu, preguiçosa da vida e das pessoas!
Sei lá, só sei que tá sendo assim.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Quero muito retomar o saxofone também

A PartidaSemana passada fui com mamãe a um cinema onde as cadeiras ficam no mesmo degrau e o ar-condicionado só funciona nas portas. Depois de muito enrolar até chegar o horário da sessão, nos aproximamos da bilheteria e pimba! eu comento:
– Imagina se o filme não tá passando? Ia ser um terror de ruim!
É só falar. Fomos na quarta, o filme tinha passado terça.
Acabou entrando em cartaz em outro cinema, e lá fomos nós depois de um dia cansativo e à base de xarope, doença batendo nas duas. Paguei o equivalente a três quilos de milho pra pipoca num combo pequeno de pipoca e refrigerante e nos sentamos bem na hora em que terminava o trailer de (500) Dias com Ela.
Aí começou o filme.
Eu sou tão volúvel. Quero muito morar no Japão algum dia. Quero muito trabalhar com defuntos alguma vez na vida.
A Partida conta uma história de tradições. São muitos os silêncios que dizem tudo. E isso me encanta tanto, me encanto tanto com o clássico, o épico, talvez por vivermos nessa sociedade moderna que insiste em desconstruir tudo o tempo todo, inovar, atualizar. Acho o velho tão bom, tão suficientemente impactante. Nem é como se eu quisesse morar em outra época, porque se eu morasse ia gostar do velho correspondente e por aí vai.
O herói perde o seu emprego bonito mas não-mais-tão-poético de violoncelista numa orquestra e vai se virar com um anúncio de jornal que diz “ajudamos a partir” (hmm, uma empresa de viagens?) mas bem queria ter dito “ajudamos os que partiram” (defuntos! morte! minha nossa!). E lá vai ele, preparar os mortos sim, brancos e fedorentos, para o caixão, lavar o corpo, trocar a roupa, maquiar, tudo tão cerimonioso e incrivelmente tocante para a família que observa, silenciosa ou chorosa. No fundo, o Japão sempre tradicional, sempre cheio das estações, dos montes e dos telhadinhos típicos.
Eu podia ter ficado pensando em morte, mas na hora pensei em vida (frase dói em mim de tão clichê, mas sou incapaz e não penso em mais nada, nem quero pensar), em todas as coisas bonitas que eu preciso fazer na vida, em todos os empregos incríveis que quero ter. Quero trabalhar com mortos! Ser trocadora de ônibus! Garçonete! Caixa de supermercado! São empregos que parecem mecânicos mas certamente têm tanto a acrescentar, não sei, me encantam. Esses cálculos integrais são loucos mas cansam tanto, não quero só isso pra minha vida, deus me livre.
Semana passada me inscrevi num curso de bombeiro voluntário.

P.S.: O filme ganhou Oscar de melhor filme estrangeiro esse ano! E só agora nos cinemas, como não adorar?
P.P.S.: Meu senso de organização de ideias tem sim estado pior.

domingo, 6 de dezembro de 2009

O professor chorão

Professor chorão 1/2 Professor chorão 2/2
Deus sabe como eu fiquei abalada com essa experiência! Contei pra tanta gente, fiz tanta careta, me descabelei tanto. Quer loucura maior que a desse professor? E eu, crente de que o fato de ele ser também professor das Artes Cênicas e de não parar de se vangloriar era uma pista de que era trote? Necas.
Nem fui na aula seguinte, por motivos de faculdade geratriz de dinheiro, mas fiquei a par dos acontecimentos e de incrível razão de depressão de Álder! Preparem-se: dor de cotovelo.
Aparentemente, ele tinha doce caso de verdadeiro amor com uma mulher não-habitante de Fortaleza, e os dois se viam uma vez por mês ou a cada quinze dias, os detalhes eu já esqueci. Pediu a moça em casamento e ficaram noivos. Até que, um belo e radiante dia, Álder conhece outra mulher, daqui mesmo de Fortaleza, e se encanta. Os dois têm um relacionamento carnal de três dias e se separam. Mas a amante não está satisfeita com o estrago na alma pura de Álder, e liga para a noiva, conta tudo e separa os pombinhos! Álder termina sem ninguém, com depressão. Sintam o poder do homem.
Ao final do discurso, pediu novos conselhos à turma. Vê se pode.

Tempos de século XIX

No mês de outubro eu perdi meu celular, sumiu assim, puf, de repente. Era uma segunda-feira, ainda me lembro (nem tanto assim), cheguei a olhar a hora (12:34) no ônibus interno do campus (sentei no banco do meio lá de trás) e depois da primeira aula olhei o bolso e estava vazio.
Ele ainda nem tinha feito três anos em minha companhia, eu tinha há pouco renovado as fotos colantes na parte de trás (várias cabecinhas espremidas em menos de 2 cm²), o vidro do visor estava trincado e eu andava bem insatisfeita, mas o danado fez uma danada falta. No começo.
Quando me vi, estava livre de horários, de compromissos, de pressa, de estresse. Não era eu a responsável a ligar pra todo mundo, cadê você?, cadê fulano?, eita alívio! Foram tempos de liberdade.
Hoje comprei um celular novo, não deu pra aguentar a liberdade tanto tempo assim. É a coisa mais linda do mundo, enchi de mp3 (toca mp3!) e tem Cebolinha e Cascão de Calvin e Haroldo no papel de parede.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Chá de sumiço é culpa de bandidos

O que é esse sumiço, hein? Bom, er, poderíamos dizer que eu fui sequestrada. Isso, sequestrada, perfeito! Duvidam? Pois então porque será que, quando eu estava calmamente almoçando na cantina do meu bloco, mamãe se aproximou me assustando e chorando?
Sequestro relâmpago! Golpe! Mistério! Telefonemas!
Ligaram aqui pra casa por volta das onze horas da manhã, sexta-feira, não 13 mas 4. Rosa atendeu, mamãe estava na universidade, bem como eu, e, opa, a garota de vocês foi sequestrada, ela está no meu lado e vou matá-la se não me der dinheiro! Não preciso dizer que Rosa ficou apavorada, colocaram a menina para chorar e gemer no telefone, perguntaram o que Rosa era da família, insistiram que fosse pegar as joias da família porque só assim eu viveria.
Quando a insistência de Rosa de que não sabia onde ficavam as joias (“No guarda-roupa, Rosa, no guarda-roupa”, foi o que eu disse) e de que o guarda-roupa estava trancado (“Arromba, Rosa, por favor!”), pediram o celular de mamãe, e Rosa deu. Ficaram os três numa conferência, mamãe igualmente horrorizada, Rosa insistindo que eu estava muito, muito machucada e precisava de ajuda imediata, eles querem dinheiro, oh meu deus!
Felizmente quis o destino que mamãe não estivesse sozinha (e bastante disposta a se apavorar com Rosa) e sim com suas alunas vivas e espertas, que sacaram na hora o golpe. Aí a realidade bateu em mamãe, que tinha me deixado no meu bloco há pouquíssimo tempo, ela ia pra universidade, eu também, porque rejeitaria a carona? Foram me procurar na cantina e lá estava eu, comendo um salgado de queijo (como almoço) muito calmamente, apesar de estar um tanto preocupada com a prova de Química ao meio-dia.
Mamãe me abraçou, chorou, e depois foi confortar Rosa na conferência (“Rosa, está tudo bem, Jana está ao meu lado e eu já chamei a polícia”). Os golpistas se emocionaram tanto com o reencontro amoroso que desligaram para dar privacidade.
Abracei mamãe em choque e fui fazer minha prova, que foi decente, mas já soube que errei besteira.