domingo, 29 de dezembro de 2013

Breve panorama anual

Mesmo se eu der um replay em fast foward nesse ultimo ano, ainda vai parecer que vivi mil vidas. Mudando de casa, de habito, de país, de amigos, de dieta, de clima... Guardei as roupas de frio na mala e o coração na estante. Desempacotei a familia e o biquini.
Deixando de morar a duas para morar sozinha e às vezes a dois para voltar a morar com a mamãe e as gatas (miau miau!) para procurar apartamento novo. Na nossa semana de mudança, eu e Natty fizemos festa todos os dias. Empacotavamos ao som de Beyoncé no nosso pancadão 1000W, e toda noite abriamos uma garrafa de vinho, e compartilhavamos historias engraçadas, historias de vida, expectativas pros meses que viriam... Não choramos nenhuma vez embora a vontade fosse grande, porque decidimos lidar assim. Durante essa semana, fizemos uma limpeza completa para entregar o apartamento aos proprietarios num brinco so. Limpamos até cair a mão (mas nenhuma lagrima), e no final os 40m² estavam mais limpos do que jamais estiveram durante a nossa estadia de dois anos. Não restou nenhuma poeirinha pra contar nossa historia, e levamos as lembranças conosco.
Morando sozinha por alguns meses, até os momentos de silêncio em dupla faziam falta. De volta ao Brasil, a busca por um novo lar se mostrou exaustiva e estressante, até encontrarmos o apartamento perfeito. Apos uma breve lua de mel, mais um zilhão de motivos para estressar (eles sempre, sempre vem!).


Ano novo passado, passei na companhia de mamãe e titia, fizemos uma pequena ceia e em seguida discutimos nossos desejos pro ano que ia começar (e que agora esta terminando). Eu fiz uma lista curta de três palavras: desenhar, amar e trabalhar. Não desenhei tanto quanto gostaria, mas com certeza mais do que no ano anterior. Deu pra amar bastante, particularmente no primeiro semestre, com alguns tropeções no segundo. O meu estagio foi maravilhoso, mas passei o ultimo semestre desempregada. Ou seja: minhas metas de ano são metas de vida e permanecem para 2014. Os projetos são sempre muitos, mas no final das contas so o tempo dira se eu consigo pôr em pratica ou não. Roteiro de quadrinhos engavetados ha anos, o eterno medo da exposição, a insegurança dos 7500km e empresas que ignoram meu curriculo (que é até bem gordinho) apesar do meu incessante envio de emails. Esses vão ser os meus obstaculos.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Apanhando do sol

Amo ir à praia, mas não vou nem de perto tanto quanto gostaria. Adoro sentir o calor, estar a passos de um banho refrescante, lavar a alma com sal, tomar agua de coco... Amo estar bronzeada, sinto que da uma aparência de saude e vitalidade.
Mas tenho pavor de bronzear errado. Dormir com a mão na barriga, deixar o cabelo solto nas costas, esquecer o biquini torto, todos esses possiveis acidentes me apavoram. Esse fim de semana, fiz tudo conforme pensei que seria suficiente: passei protetor para não pegar câncer de pele, mas so o suficiente para proteger dos UVs e ainda garantir um bom bronzeado, ajeitei o biquini sempre que lembrei, amarrei o cabelo e me mantive onde não havia sombra.
O resultado foi:


Sem oculos escuros (esqueci, não sou robô) e com pouco protetor na palpebras (não queria que entrasse no olho), virei um panda.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Le Pouce d'Or


Nesse mesmo fim de semana, mas um ano atrás, eu e meu amigo Rafael vivemos uma das nossas incriveis aventuras: viajamos 788 km pela França pedindo carona. O esquema toda fazia parte de um concurso, que nos não ganhamos no papel mas que foi uma grande vitoria para os dois. Um fim de semana de emoções e solidariedade, que aumentou nossa fé no mundo e engrandeceu a amizade.
No começo desse ano, a nossa professora de francês organizou um livro escrito pelos alunos estrangeiros. Cada um deveria escrever 10 paginas sobre um tema relacionado à França. Eu fiz um quadrinho de 10 paginas sobre o nosso concurso de carona, O Polegar de Ouro, que agora esta disponivel em português. Se vocês lerem, não vão se arrepender, mas é possivel que fiquem com vontade de viajar.
Além disso, também fizemos um video-propaganda chamado Brasileiros da Carona com as melhores cenas, esse ainda mais amador que os quadrinhos porque minha experiência com o Adobe Premiere era nula até então. Mas é um amador super amavel! As legendas tão em francês, e o audio em português. Um beijo!


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Tristeza imóvel

Ha alguns meses minha mãe comentou comigo o desejo de vender o apartamento, e a vontade de me esperar chegar para ajuda-la na busca de um novo. Eu achei o maximo, nosso prédio é antigo, os quartos são caldeiras do inferno e ja estamos torrando entre essas paredes ha 12 anos. Apesar disso, o apartamento é grande, tem uma varanda-floresta e a localização ideal para quem não sabe dirigir (oi).
Tão logo eu cheguei, penduramos a placa na arvore da calçada. VENDE-SE. Tão logo penduramos a placa, vendemos. Como ainda não compramos nenhum outro, estamos oficialmente no olho da rua. Felizmente, tem um viaduto bastante acolhedor aqui pertinho de casa.
O sentimento de estar sem lar não vem do simples fato de ter vendido o apartamento onde moro desde quando ainda brincava de Barbie. Também. Mas nos ultimos anos fui, repleta de êxtase, construindo e amando novos lares e abandonando cada um deles com o passar do tempo. Este, que deveria ser o meu eterno lar, o apoio do meu coração, deixou de existir justo quando eu mais precisava.
"Ah, Jana, também chorava todos os dias", Gabi tentou me ajudar, mas tem vez que so da pra esperar mesmo. Esperar passar. Mantive o ritmo piscina-yoga-estudo-desenho-leitura e, entre braçadas, aquarelas, Isabel Allende e hidrelétricas, a tristeza escorreu de mim...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

As desvantagens de ser invisível


Na festa também tinha outro garçom com whisky, mas esse passava tão longe da mesa que nem conseguiria ver meus acenos.
Tem uma tirinha da Malfada com um trocadilho interessante que eu tinha gostado muito quando li, mas que demorei para captar a verdadeira essência. A Mafalda (e o Quino) cometeram a mesma gafe que o meu garçom: na festa da vida, eles ignoraram as convidadas mulheres. Hoje eu não poderia ter mais aversão a essa tirinha, porque taí o elemento chave do sexismo: a cegueira.

domingo, 13 de outubro de 2013

Casamento e casca de ovo

Sábado mamãe tinha um casamento e fomos juntas. Gente simples: o casal trabalha num supermercado de um bairro da periferia, se conheceram lá, se apaixonaram, e estão oficialmente casados há um dia, aos 19 anos. O rapaz é oriundo de um assentamento rural onde mamãe realizou um estudo e fez grandes amizades. Quando mamãe ia passar fins de semana por lá, ela me levava e eu brincava de boneca com outras meninas.
Chegar lá foi uma aventura sem tamanho que durou uma hora de carro, com mais risadas cada vez que tínhamos novas indicações de como chegar lá. Demos carona a 4 pessoas, todas do sexo feminino, o que, sim, totaliza um total de 6 pessoas num carro de cinco, e Lourdes era a nossa GPS humana, responsável por repassar as informações que obtinha no celular. O convite de casamento não ajudava muito, porque só dizia:

Capela Santa Terezinha
Rua B, s/n

(Mesmo que nada.) O noivo tentou ser sucinto na primeira ligação: "Olha, vocês têm que dobrar à direita no posto Ale, aí à esquerda no sinal, vai direeeeeeto no rumo do nariz até o posto Bom Jesus, aí à esquerda, depois quando ver a farmácia pega à direita..." Na segunda, nós completamente perdidas, acabamos entrando num beco sem saída com uma imensa fogueira no final da rua. Ficamos apavoradíssimas e daí vocês imaginam que quando vimos um rapaz sozinho e esquisitíssimo logo ao lado do carro, faltamos dar um pulo de medo, éramos só mulheres no carro! Entre apocalipse e homem estranho, mamãe deu meia-volta, ficamos coladas no homem, não deu outra, Lourdes soltou:
- Gente, o homem tá aqui tirando uma arma!!!
Brincadeirinha essa que não, não teve graça! Quando chegou o posto que paramos e ligamos (mais uma vez) pra perguntar que direção seguir agora, o noivo falou: "Pronto. Cês tão em casa. Agora perguntem aí como faz pra chegar no mercadinho Deus Te Pague." E não era brincadeira. Que tipo de indicação é essa, e que diabos de nome é esse, mas perguntamos. Deixa que não era o posto certo, ainda dirigimos mais em frente, pegamos à esquerda e quando vimos uma farmácia, à direita. Paramos e perguntamos. Da moto, a moça nem desceu e respondeu de costas, virando só o rosto, que tinha que voltar e dobrar à direita na próóóxima farmácia. O homem, também em cima da moto e de costas, perguntou se a gente ia pro casamento. (Devia ser o evento do bairro!)
O noivo era um garoto sorridente e feliz, só um pouco nervoso porque afinal aquele dia tinha chegado e ele seria oficialmente o marido de alguém, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. A noiva era miudinha e séria, deu tão poucos sorrisos que quisemos averiguar se ela era banguela (não era), e que estava tão nervosa, mas tão nervosa, que aquele dia tinha chegado e ela seria oficialmente a esposa de alguém, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, que na hora que dos votos que o padre disse:
- Repita comigo, minha filha. Eu, Terezinha,
Ela disse:
- Eu, Terezinha,
E o padre:
- te recebo,
E ela:
- te recebo,
E o padre:
- Diga o nome dele.
Ela falou:
- Diga o nome dele.


E na hora que eles se beijaram ficaram radiantes, mas o então-noivo-agora-esposo ficou rindo e lambendo os beiços, e rindo, porque estava cheio de gloss nos lábios e não sabia lidar com aquilo. Nós rimos que rimos, e ficamos todas à procura do Momento Em Que A Moça Ia Sorrir, porque ela era tão séria que quando fomos tirar foto com o casal, mamãe falou e repetiu "Todo mundo sorrindooo!". Mas na hora em que estavam só os dois tirando foto, e que ela puxou a gravata dele e deu aquele beijo, e tiraram foto, ela riu e riu e riu, e tiraram ainda mais fotos que devem ter sido bem mais lindas do que as em que ela fazia pose (de séria).
Na hora das despedidas, a mãe do noivo, que adora mamãe, que já estava na sua segunda roupa da noite e que tinha costurado o vestido que usou na festa, fez mil elogios a mim. Porque ela estava tão feliz de eu ser tão simpática e bacana, que ela estava realmente super feliz, e deu mil parabéns, porque na época em que ela tinha me conhecido, geeeeente, eu era um pouco antipática, não falava muito, mas também não tinha muito o que se falar. Achei graça.
Numa semana em que eu estava até um pouco infeliz com um detalhe ou outro, ou sei lá, deprimida de um modo geral com minha vida, ser chamada de legal faz bem, e estar num ambiente onde a felicidade reina gratuitamente (ainda que alguns - alguma - não expressem isso de maneira adequada), te deixa num humor gratuitamente feliz. E sabe, aquele menino teve a sua cama de casal nova da casa nova roubada enquanto trabalhava, os ladrões vieram e desmontaram tudo e levaram cada uma das peças, mas tava lá sorrindo feliz porque estava casando com seu amor, e seus amigos fizeram uma vaquinha pra comprar uma cama nova, porque a vida é assim, se perde, se ganha, mas eles não iam passar a lua de mel no chão.
E quando voltamos pra casa eu estava morrendo de sono e até fiquei mal humorada com mamãe, mas eu não podia estar mais satisfeita de ter ido nesse casamento. Sair do mundo que eu criei na minha cabeça, expandi-lo um pouco mais e estar sinceramente feliz por algo tão distante e tão próximo. Cansa ser uma pessoa só, ver o mundo de um jeito só. Quando criança, eu era obcecada por entrar na mente dos outros. Nos meus dias mais solitários, eu só queria entrar de penetra no cérebro de alguém e viver a vida nos sentidos daquela pessoa, descobrir as aventuras de estar naquela pele, e desvendar tantos mistérios inacessíveis a mim. Quando, num raio de sabedoria científica, eu percebi que se entrasse no cérebro de outra pessoa eu automaticamente perderia o acesso à minha memória, e que, quando voltasse ao meu corpo, eu igualmente não conseguiria mais acessar as memórias que construí no outro cérebro, portanto seria incapaz de lembrar do passeio, fiquei muito decepcionada.
Estamos nesse relacionamento com nós mesmos até que a morte nos separe.


domingo, 29 de setembro de 2013

Bicha macho


Antes que haja espanto: eu achei muito nojento!!! Mas não tinha escolha, porque nojento mesmo estava pra póbi da menina. a minha missão era salvá-la!!!!
Uma moça da topic contou a terrível história de uma amiga que encontrou uma barata dentro da bolsa!!!! E que, apavorada que alguém mais visse, fechou o zíper rapidinho e deu carona pra barata até em casa. Vê se pode!

domingo, 15 de setembro de 2013

De volta pra casa


(De julho do ano passado.) O que eu mais estou sentindo falta é de ter férias. Poder passar o dia sem fazer nada sem sentir culpa (trabalhos, provas, relatório tudo isso já faz parte da minha vida de novo CREDO), fazer bolos e assistir os filmes mais melosos da TV... Hoje é domingo e amanhã recomeça a rotina.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Mania de grandeza


Quando criança, eu era obcecada com a ideia de querer mudar o mundo. Eu tinha vindo à vida e queria fazer da minha existência algo unico e relevante para a humanidade. Escrever um livro que faria a cabeça de toda a gente. Virar Presidente da Republica e salvar o pais do subdesenvolvimento. Ser internacionalemente renomada e ter minhas descobertas incluidas nos livros de escola. É facil sonhar alto.
Não consegui seguir carreira artistica porque queria colocar a mão na massa e mudar concretamente a vida das pessoas. Eu era curiosa demais para deixar a ciência maluca de lado.
Quando eu percebi que, ainda que de maneira distinta e paralelamente, estava seguindo o mesmo caminho da minha mãe, dei uma parada. Sou filha de mamãe, mas isso não me obriga a seguir os passos dela. Ela esta me guiando de maneira abstrata, eu não preciso ir atras literalmente.
Então às vezes eu penso... Eu poderia jogar tudo pro alto. É minha vida. Aproveitar que agora tenho um objetivo de vida novo e seguir o coração.
Mas não parece justo pensar so na minha propria felicidade, quando somos tão numerosos nesse planeta. Se eu olhar so pro meu umbigo, vou deixar de fazer tão mais... E meu umbigo é tão timido que quando eu encaro ele fixamente, ele corre pra se esconder atras de mim...

  

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Sindrome do Regresso


Quando eu deixei Fortaleza e decidi encarar Lille de queixo erguido, ha dois anos, eu sabia que eu ia voltar. Eu tinha assinado papéis e mais papéis alegando meu retorno ao pais natal. Não é simples deixar a vida que você conhece e que parece fazer funcionar suas engrenagens sozinha para uma vida numero 2 onde haja força pra girar a manivela e fazer tudo acontecer. Mas a cidade estaria la, calma e quietinha, esperando meu duplo diploma acabar, meus amigos la, minha familia la. Agora eu estou deixando Lille. Meus amigos não vão me esperar voltar dessa vez, eles vão seguir seu proprio rumo. E eu, o meu.
O grande passo que eu estou dando na vida adulta não é ter aprendido a morar sozinha, resolver meus problemas financeiros e burocraticos, cuidar de uma casa e de mim mesma. É perceber uma nova identidade da vida, esse carater passageiro. As coisas passam, as pessoas passam, as cidades não se mexem mas também não ficam paradas. Eu vivi algo que acabou, e cabe a mim escolher o que fazer daqui pra frente.
Livre arbitrio é uma bênção que tem me tirado o sono de noite e explodido minha cabeça durante o dia...

terça-feira, 30 de julho de 2013

Maternidade é ser mãe. E ser filha?

Com a minha mãe, eu tenho uma relação dividida. Se quando eu assistia muito Gilmore Girls e interagia pouco na escola ela foi minha melhor amiga, ela também é uma das poucas pessoas com quem eu me zango. Com ela, eu posso tudo: sou eu mesma 100% à flor da pele, sem medo de ser chata ou de ser julgada. Me entrego inteiramente no quesito personalidade, mas não costumo compartilhar os meus segredos mais secretos.
Nos amamos ir ao cinema juntas, de noitinha, de vestido, e comer uma pizza depois. Eu adoro quando de manhã no café ela me narra o filme que viu na véspera na TV, por mais boba que a historia seja ela sempre parece incrivelmente genial contada pela minha mãe. Mamãe é zen, gosta de tomar cha de tardezinha e sempre tira soneca depois do almoço se tiver tomado uma taça de vinho. Quando eu evito dividir os assuntos do coração, ela me coloca na parede delicadamente: "Querida. Eu estou lhe fazendo essas perguntas porque eu sou sua mãe e me preocupo com você. Eu te amo, e tudo o que eu quero é que te respeitem e gostem de você como você merece."
As vezes eu tenho vontade de inverter os papéis. Mamãe ficou orfã ha três anos e esta quase entrando na aposentaria, eu queria consola-la e ser ouvida. Mas porque quando não nos vemos ha meses eu sorrio e abraço, mas evito os beijos molhados? De onde vem essa repulsa ao carinho maternal? Ando encucada com a nossa relação, porque de vez em quando ela é tão superficial quando poderia ser tão mais, tão intima, tão proxima.
E mamãe é tão doce. Me manda email sem nenhum conteudo, sem pontuação, so com titulo: "Ligue agora estou com saudade". Ela não precisa dizer mais do que isso.
Minha madrinha me mandou um presente de aniversario no começo do mês de abril, para se certificar de que o pacote chegava antes do dia 20. Mamãe, sabendo e sendo mãe, so pôde mandar o pacote depois, mas ela foi a primeira a me ver no mundo e queria ser a primeira a dar presente, então pagou um notão pra o pacote chegar em 5 dias uteis. No dia 23/04, recebi um aviso de que tinha um pacote nos correios me esperando. Era da minha madrinha. O pacote da minha mãe nunca chegou, e quando passou toda a loucura de fim-de-semestre-entrevista-de-estagio-despedida-dos-amigos, fui nos correios perguntar onde diabos estava o pacote EB028856040BR. Eram 4 da tarde. O pacote tinha sido enviado de volta ao Brasil às 11. Eu fiquei arrasada. Mamãe ficou arrasada. No dia das mães, fiz um haikai.

triste volta do mimo
será seguida pela
feliz volta da mima

Eu chamo mamãe de mami. Ela me chama de mima. A inversão de silabas define bem a nossa relação e a minha vontade de invertê-las mais uma vez, sempre sem sucesso, como também a semelhança das palavras representa a nossa proximidade. Pro meu retorno eu tenho inumeras metas, mais do que posso contar e do que poderei cumprir. Continuar a ioga, aprender a dirigir, oferecer almoços de domingo, dar aulas de francês… investir na relação com mamãe.
Quando minha mãe se ofereceu pra vir me trazer na França, eu recusei de imediato. Imagina! Minha mãe! Me trazer na França, de avião! Uma coisa era ela me levar de carro na faculdade, quando todo mundo ia de busão ou dirigindo o proprio carro, porque ela estava simplesmente indo pro seu lugar de trabalho. Não tenho vergonha da minha mãe. Mas dai a pagar ida e volta de avião pra me deixar em outro continente… Eu sei que ela so queria se certificar de que eu ia chegar bem e estar bem instalada, mas… Limites.
Quando minha mãe se ofereceu para vir me buscar na França, eu pensei que seria bom, mas que não precisava tanto assim, e que se ela tinha dinheiro pra pagar ida e volta de avião, ela faria melhor depositando na minha conta pra eu poder viajar mais por aqui.
Quando eu confessei pra mamãe que talvez tivesse sido uma boa ideia que ela viesse me pegar, ja era tarde demais, meu bilhete comprado ha meses, o final se aproximando a largos passos. E imagina! Minha mãe! Aqui! Adiantando a minha sensação de volta! Ocupando minha presença quando eu poderia estar curtindo as pessoas que vou rever sabe-se la quando!
Quando minha mãe confessou que queria muito vir me buscar na França, eu não pude dizer um terceiro não. Eu sabia que ela tinha que vir, me ajudar com as malas de lagrimas e os quilos de tristeza, conhecer minha casinha e curtir comigo os ultimos diazinhos de Lille. Ela tinha milhas pra pagar o trajeto de volta e jurou não atrapalhar meu feriadão romântico no mar Mediterrâneo. Ela vem de férias e por acaso vai voltar no mesmo avião que eu.


segunda-feira, 8 de julho de 2013

domingo, 7 de julho de 2013

"It's beautiful." "What?" "Life. So Long."

Durante um almoço na cozinha essa semana, o assunto da mesa foi amor e casamento. Os homens (maduros, experientes, na quarentena) expuseram suas opiniões sobre a vida em casal e as meninas (jovens, ingênuas, 22 anos) seus sonhos de amor verdadeiro. Clic. Vou ao cinema assistir Antes da Meia-noite, depois de acompanhar Jesse e Céline desde mesmo antes do meu primeiro beijo. Fico com uma dor de cabeça terrivel durante a hora e meia (eu, a menina natureba que não tem dor de cabeça) e saio com o humor mais baixo do que subsolo (tendo amado o filme). Clic. Peço ajuda por email numa macro do Excel e recebo uma planilha com a solução – e um grande I <3 U em rosa e vermelho.
Aos 15 anos, eu me inventava historias de amor malucas: um cara de moto que se oferecia para me dar carona até o colégio quando eu estava extremamente atrasada, correndo desesperada pelos quarteirões, um rapaz que deixaria um recadinho na minha carteira, com quem eu teria conversas interessantes e inteligentes durante semanas antes de nos encontrarmos ao vivo. Na vez em que um estudante de filosofia me parou pra entregar um poema sobre mim que ele tinha escrito enquanto eu tirava umas xerox, sendo que nos tinhamos pegado o mesmo ônibus, eu fiquei tão apavorada imaginando ele me seguindo que nem dei meu telefone. A vida é melhor que a imaginação, porque ela é como a nossa moeda: real. (Eu sou funny!!!!) Mas esse adjetivo traz com ele todo o pacote de realidade. E com esse pacote não tem devolução: é pegar ou largar, o que torna tudo mais excitante e dificil. Milan Kundera ja falou... "Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?"
No fim de semana passado eu visitei uma usina nuclear (de fora), e nunca estive tão proxima de uma arma de destruição em massa. Dentro do carro, ouvindo a explicação dos três circuitos existentes numa usina nuclear e vendo o vapor danado que não parava de ser liberado na atmosfera, fiquei pensando que se por acaso houvesse um acidente eu estaria numa zona de extremo perigo e ai a musica dos Smiths tocou na minha cabeça. Mas meu interesse em destruir o meu pacote é menor do que zero, eu quero abri-lo e descobrir cada um dos itens que a vida separou pra mim, encontrando o que eu encomendei e me surpreendendo de achar algumas lacunas ou surpresas.

sábado, 15 de junho de 2013

Cama de casal para uma

Quando eu comecei a procurar um apartamento novo, eu tinha duas exigências maiores. Eu queria ter um apartamento fofo, que me acolhesse como eu sou e que eu pudesse acolhê-lo como ele é, feliz em estar ali e pronta para contruir um novo lar, ainda que temporario. Os arredores deviam ser seguros e, claro, o apê tinha que ser bem localizado. Mas mais do que isso, eu queria duas coisas: uma cama de casal e uma banheira. Achei algo mais caro do que eu podia pagar, pechinchei o preço e consegui o pacote completo, com alguns brindes. Tenho espaço na janela para meu vaso de flores, ouço os sinos da igreja, minhas cortinas são cor-de-rosa, as paredes do cantinho-cozinha são bordô. Tenho minha banheira. Tenho minha cama de casal.
O problema é que eu fico sem vontade de ir dormir se for pra dormir sozinha.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Saudade também existe em francês

Depois de dias, meses, anos, UM TEMPO INCONTAVEL, eu senti uma pequenina minima minuscula vontade de escrever. Da minha janela o céu esta de um azul belissimo e rarissimo, as casas tem chaminés e o pôr-do-sol ainda não caiu, mas o sino ja bateu as nove da noite. A contagem regressiva pra minha volta começou ha três semanas, quando eu e a minha ex-colega de quarto entregamos as chaves do lar dos nossos ultimos dois anos. Eu mudei para um apartamento, e a aventura de morar sozinha recomeçou: dessa vez 100% sozinha. Os amigos que serviam de familia se dispersaram pelo pais e pelo mundo, e de companhia me sobraram as cenouras e as minhas guirlandas.
Minha mãe foi, claro, a primeira pessoa a me mandar carta no novo endereço (ta bom, ta bom, tirando a companhia telefônica!). No meio das Frases Repletas de Letras Maiusculas, eu senti a saudade que ela sente. E senti falta de estar em casa. Em dois anos eu não senti tanta saudade assim. Eu vim porque eu quis e estava decidida a aproveitar o maximo que as minhas limitações me permitissem. Mas isso é porque eu sabia que eventualmente eu ia voltar, e agora dia 24/08 eu estou embarcando num voo Paris-São Paulo-Fortaleza de 19 horas. Sem passagem de volta.
Eu e meus amigos começamos a pensar em como vamos fazer com a bagagem de volta. Pelo menos três malas no avião, varias bagagens de mão, pombo-correio, barco, coruja de Harry Potter, teletransporte, ok. E onde a gente coloca tudo o que nos vivemos e apreendemos nesse tempo que passou tão rapido mas pareceu tão infinito? Fica no nosso cérebro, embrulhado nos nossos neurônios, incrementando a memoria e acrescentando novos itens na prateleira das coisas importantes. Festas tão longas como uma centopeia, experiências culinarias, fofocas, dramas, as viagens que nos nunca sonhamos fazer, muito alcool, muita neve, muitas risadas e muito amor.
A impressão que ficou é que eu sou a mesma de quando cheguei, mas com muito mais tristeza e alegria no coração. Ainda não acabou, mas o meu relogio biologico não para de tiquetaquear pra me preparar para o fim...