segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Premiação da minha vida

Com tantas retrospectivas pipocando por aí, eu fiquei com vontade de fazer a minha. Juntei os livros que li lado a lado e consegui pensar em algumas categorias, mas fiquei sem graça sobre o que dizer (sou de exatas, gente, não sei organizar as ideias em frases coesas e bem estruturadas, isso se eu tiver a chance de ter ideias). No outro dia, estava contando um causo engraçado pra minha tia e percebi como aquele incidente merecia um troféu. Juntei dois mais dois, somei cinco e obtive nove categorias das melhores (ou maiores) coisas do ano.
Em um ano que não foi fácil e que terminou tão difícil, esse balanço deu pra ver que mesmo assim foi bom, que aproveitei como pude, e que sou uma eterna otimista.


Para um ano calmo e em casa, eu até que viajei bastante. Visitei cidades novas e descobri mais do mesmo. Munique foi um encanto (com o melhor museu que já visitei na minha vida), Buenos Aires uma revelação (alfajores e media lunas no café-da-manhã, e um diário de viagem ilustrado), São Paulo foi de saudade dos amigos, Maranguape reencontro com a família e a infância, Paulo Afonso foi a viagem acadêmica e maravilhosa (com hidrelétricas impressionantes e o querido Velho Chico). De todas, vou ficar com a Serra de Ubajara aqui pertinho. Ficamos numa pousada que na verdade era sitio, e possui sua propria trilha para uma belissima vista da região enquadrada pela Mata Atlântica, e deliciosas geleias caseiras no café-da-manhã (banana! cupuaçu!). As trilhas foram lindas, bebiamos agua potavel colhida da bica, passamos por detras da queda de uma cachoeira de setenta metros, e à noite... ah! Olhando o céu dava pra localizar mil constelações, e ver o esfumaçado da Via Láctea.


Era fim de outubro, fim de semana das fotos de formatura, no domingo fotos de branco na praia (com champanhe e letrinhas de EVA escrevendo ELÉTRICA UFC) e no sabado fotos no estudio (de manhã) e na frente da reitoria (à tarde). No sabado de manhãzinha, tomei um banho dos banhos, preparei o cabelo como nunca, mil cremes e massagens. Me maquiei com carinho e simplicidade, e coloquei argolinhas de ouro e brilhante. A camisa social branca tinha comprado na semana anterior, com uma textura delicada de tracinhos. Vesti meu terninho Zara e pra fechar coloquei um cinto preto que minha madrinha me deu, cujo fecho é uma pena dourada. Na hora do almoço, depois das fotos no estudio, decidimos ir almoçar juntos no shopping. Fomos todos vestidos chiques, e a opinião unânime era de que deviamos tomar muitissimo cuidado no almoço para não danificar o traje e as futuras fotos. Eu e meu amigo chegamos um pouco atrasados, deixamos os paletós no carro dele e encontramos um pessoal que ja comia na praça de alimentação. No caminho tinhamos decidido não pedir nenhuma comida com molho, para evitar qualquer tipo de acidente. Muito inteligentes, decidimos comer sushi, sem perceber que tem molho, sim, senhor, mesmo que acessoriamente. Quando expomos a decisão, uma amiga ja foi dizendo:
- Gente, cês sabem, né, molho shoyo ADORA camisa branca.
Ficamos igualmente brancos, mas na teimosa não vacilamos.
- Cuidado, porque o Abnadan aí, vejam só, já se melou.
A pessoa em questão estava comendo um hamburguer e tinha uma comprida gota de catchup na camisa.
- Caaaalma, gente! A gravata cobre! - ele pôs a gravata por cima, e cobria mesmo.
Pegamos nossos sushis e sentamos. Do meu lado, um menino que por segurança tinha vestido outra camisa social (azul) por cima da branca, de escudo.
Começamos a comer.
Bom.
No intercâmbio, uma amiga de descendência coreana me ensinou uma maneira otima de comer sushi valorizando o molho. Consiste em pegar o sushi com os hashis, mergulhar levemente no molho shoyo e em seguida virar o sushi de cabeça pra baixo para que o molho penetre bem no todo sem que ele fique ensopado. É uma técnica otima, que nunca tinha me causado problemas.
Até.
Ainda estava na metade do almoço, peguei um sushi, mergulhei levemente no shoyo e virei ele de cabeça pra baixo. Enquanto o molho penetrava, o sushi escorregou dos palitinhos. Mas ele não apenas caiu no molho. Eu consegui derrubar o sushi de tal maneira que ele caiu na borda do recipiente e catapultou todo o molho para cima de mim.
Pra cima da minha camisa social branca. Nova. Cara.
No busto, pela barriga, na manga toda, no punho.
No dia da sessão de fotos.
O menino do meu lado gritou e levantou rapidamente, mas escapou. Todos me olharam incrédulos. Eu, mais incrédula ainda. Ninguém tinha guardanapo. Não ia ajudar mesmo, então passei o resto do almoço no banheiro do shopping, onde tirei a camisa, lavei na pia com sabão e enxuguei na maquininha de ar quente pra secar as mãos, porque graças a deus não era papel. Salvei a camisa e as fotos sairam otimas, só não consegui terminar o almoço, e os rapazes devoraram os sushis restantes.


Comprei uma plantinha, mantive, e ela sobreviveu. Não foi facil, meu dedo não é verde, mas todo dia de manhã, junto com a agua das gatas, coloquei agua na minha roseira e agora ela dá flor toda semana e alegra minha janela. Com a vista pro Parque do Cocó, ela deve morrer de inveja da liberdade das árvores de lá, mas eu tento dar o meu máximo de amor e carinho pra satisfazer as suas necessidades.


Mais um ano se passou e não levei minhas gatas para se vacinar, não dei banho, não dei nenhum tipo de remédio. Tentando tomar alguma atitude, nesse finalzinho de dezembro, levei Nina no veterinário e ela fez até exame de sangue (um sofrimento!!! Sabe onde colocam a agulha em gatos? No pescoço!!! aiaiaiaiaiaiai), mas não voltamos para ver no que deu. Em minha defesa, elas estão muito saudaveis, com pelo macio que nem bumbum de neném, cheirosas como se tivessem acabado de sair de uma loja de perfume e nunca beberam tanta agua na vida, graças à...


Uma francesa que se hospedou aqui em casa nos deu a dica de colocar a vasilha d'agua das gatas em um aposento diferente da vasilha de comida, porque aparentemente os gatos não gostam de beber agua no mesmo cômodo em que comem. Durante esses 8 anos em que somos as solteironas dos gatos sempre surpreendemos as meninas bebendo agua em lugares inusitados como: a torneira do banheiro, o chão do box, a bandeja do filtro, o prato do vaso de planta, etc... então acreditei sem piscar e adotei a medida rapidamente. Agora todos os dias encontro a vasilha (que coloquei ao lado da minha cama) mais seca que o Cantareira e de vez em quando acordo no meio  da noite com os glub glub das meninas.


Nos mudamos e o apartamento novo não poderia ser mais delicioso, ventilado e ter vista mais linda (não é o mar, mas da pra ver uma pontinha dele). Infelizmente, trocamos o Bar do Railson por um buffet infantil. Poderia ser pior, mas não aguento mais ouvir a musica-tema da Hannah Boo Boo repetidamente a semana inteira. Felizmente, os aniversariante de dezembro estão em baixa, e estamos tendo um breve periodo de paz.


Essa foi uma linda surpresa! Passei boa parte dos jogos da copa na casa da minha tia, e se antes ficava irritada com a agonia e nervosismo da Safira, agora fico felicissima de pega-la no colo, fazer carinho e ver as patinhas dela tremelicando sem parar de alegria de ver gente! Quando assistimos TV ela vem e deita do meu lado, dorme quietinha e late de ciumes pra quem chega perto de mim. Miudissima pois é um pinscher tamanho zero, a Safi é pura fofura!


Reutilizei muitas receitas dos anos anteriores que permaneceram sucessos: o guacamole, a quiche de alho-poró, o melhor bolo de chocolate do mundo, os cupcakes de maçã. O sucesso em termos de prato salgado foi inegavelmente do yakissoba! Muito simples de fazer se você tiver os ingredientes em casa, que nem são dificeis: brocolis, pimentão, cebola, cenoura, camarão (ou frango ou carne), o macarrão japonês e gengibre, açucar, catchup, molho shoyo e molho inglês pro molho. Basta cozinhar o brocolis, fritar os legumes todos (inclusive o brocolis) e preparar o molho numa frigideira grande, cozinhar o macarrão e misturar tudo! (Existem versões mais elaboradas e verossimeis, mas a minha adaptação ja é bem gostosa.)
Como prato doce, ficam os maravilhosos cookies da Lucy, que são simplissimos de preparar também, o chato é so gerenciar as varias fornadas, porque a receita original dá bastante massa! Apesar da preguiça, eu nunca quis fazer uma fração da receita, porque isso significaria também menos biscoitos e menos delicias.


A minha vontade de aprender a surfar se mantém, mas a natação ainda precisa se consolidar. Enquanto isso, todo o meu amor fica para o pole dance! Tudo começou no final do ano passado com uma promoção no Barato Coletivo: 4 aulas durante 1 mês por apenas R$ 60. Eu e Carol fomos na graça, riso no canto da boca, curiosidade nos olhos. Terminou em paixão. É um esporte individual, então eu não me preocupo em estar atrapalhando ninguém com minha falta de jeito, tem aquele alongamento que me faz sentir bem e o grau certo de originalidade que eu gosto na vida. Cada aula e movimento novo que aprendemos vem acompanhado de fotos, roxos e orgulho. No studium, o clima é de leveza e companheirismo, todo mundo se ajuda, ri e brilha com a vitoria dos outros. Conto pra todo mundo, tem gente que me pergunta "Posso dizer que tu faz pole dance?", pode, pode sim!, não tenho vergonha porque não tem motivo pra ter. É maravilhoso e me faz um bem incrível, mental e corporalmente.
(A posição acima chama Yogini, e eu me seguro pelo braço e pela barriga!)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O fim de dois ciclos

Minha mãe adora falar em ciclos, e em fechar os ciclos, para poder iniciar novos ou simplesmente atingir um estado de harmonia. Nesse final de ano, estou fechando dois grandes ciclos,  cada qual longo do seu jeito e ambos imprescindiveis ao meu atual eu. O coração se divide em alegria, muitamuita alegria, e tristeza, daquelas que eu nunca pensei que fosse sentir, que perfura meu coração em lugares que eu desconhecia até então, e que permanece no plano de fundo diariamente, para me atingir quando eu baixo a guarda.
Eu digo pra todo mundo que nunca pensei que fosse ficar tão imensamente feliz de estar me formando. As pessoas respondem:
- Eu com certeza vou ficar muuuuito feliz quando me formar, eu sei!
Ou:
- Não é nenhuma surpresa, quem não ficaria feliz?
Ou:
- Mas é claro! Você merece!
Embora pareça tão obvio, eu falo sinceramente. Nunca pensei porque nunca pensei que esse dia fosse chegar. Entre fim de semestre impar e fim de semestre par, intercâmbio, bolsa e estagio, o trajeto parece imenso, e quando parece que a formatura ta chegando ainda tem tanta coisa pra resolver, coordenador pra driblar, rifa pra vender...
Então acabou. Estou naquela bifurcação da estrada em que não tem como saber como vai ser daqui pra frente, e, ao mesmo tempo que parece que tudo pode acontecer, essa miríade de opções dão uma vertigem que te deixam quase incapaz de tomar uma atitude.
Nessa história de decidir o que fazer da minha vida, fechei sem querer querendo um outro ciclo, que vinha se arrastando há um ano e meio entre saudade e solidão. Não imaginei que fosse doer como doeu, ao ponto de me arrepender e tentar voltar atrás e ficar revoltada que não tem ensaio nessa vida, porque se eu soubesse que ia ser assim tinha feito diferente. Dele, fica saudade e solidão, multiplicadas por cem. Não tem como o ano que vem ser uma maior incognita.


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Cráu

Quando criança, minha brincadeira favorita era esconde-esconde, mas eu também era doida por carimba e sete pecados. Enquanto morei no condomínio da Marcondes Pereira, andava de bike no pátio todo, e descia a rampa de patins. Me dava super bem com todas as crianças do prédio (exceto aquela vez em que dei um mega ataque de egoismo e berrei e chorei porque vi Tiago e Raissa brincando no meu quarto com todas as minhas coisas de Barbie espalhadas pelo chão enquanto eu assistia TV dodoi na sala, sendo que eu tinha deixado eles irem pro meu quarto brincar), e entre os jornaizinhos e os remédios que a gente inventava, também viviamos em guerra com o nosso vizinho. Tinha um pé de siriguela que dava pros dois lados, e era siriguela pra la e pra ca com todas as forças que crianças de 8 anos tem, em dias de batalha. Uma vez teve uma febre de catapora, mas eu não peguei. Outra vez, para rivalizar com o Clube dos Meninos, nós meninas criamos o Clube do Desenho. Eu mandava e desmandava e adorava isso, o Lucas me chamava de vaca louca (gente) e eu saia correndo atras dele com meu sapo de pelucia me sentindo a propria Mônica (eu achava o maximo).
A escola é um ambiente estranho, né? Por algum motivo, as coisas não se saiam tão bem por la. Entre ser a ultima a ser escolhida no futebol, ter vergonha das minhas notas (boas) e me sentir a menina mais feia da turma, não consegui guardar nenhuma amizade do Ensino Fundamental. As vezes eu acho que minha natureza introspectiva nasceu no ambiente escolar e so com muitos anos de reconstrução eu consegui me reestabelecer como aquela menina tagarela e ansiosa por gente dos primeiros anos, ou pelo menos um pouco.
Mas se meu trauma das noites em claro chorando porque não tinha amigos (aos 11 mudei para um prédio de idosos) foi rapidamente identificado, a minha aversão a esportes ficou. Os amigos, eu arranjaria, mas ficar encostada na parede até o arrastado final da escolha dos times e sentir aquele olhar de tô-pegando-você-porque-é-o-jeito do lider, isso eu não queria nunca mais. Basta de humilhação. No Ensino Médio, passei três anos arranjando atestado médico falso dizendo que eu não podia fazer exercicio fisico. A minha piada era que meu esporte era corrida... atras dos ônibus.
Quando eu me inscrevi para uma semana de esqui, eu estava mais curiosa pela aventura do que pensando na atividade fisica. Entre o nosso prô que colocava o oculos escuro por cima do gorrinho, nossos colegas tão iniciantes e exultantes quanto a gente (Mélanie, coitada, desceu rapido demais e se meteu dentro de uma faixa, bem cena de filme pra chorar de rir), as toneladas de protetor solar no rosto (e mesmo assim bronzeei) e as pistas verde, azul e vermelho (preto não que é muito dificil!), eu amei aquilo. O vento frio correndo pelas bochechas, a imensidão branca das montanhas que querem tocar o céu, a adrenalina de descer e descer e descer e descer e depois subir nas cadeirinhas olhando todo mundo formiguinha pra descer e descer e descer tudo de novo. Rafael me chamava de robôzinho, eu toda dura me concentrando muito mesmo pra que aquela ultima queda fosse realmente a ultima queda da semana.
O esqui entrou pra magra lista das atividades que eu gostava: patins, patinação no gelo, esqui. Uma lista tão chic que até parece uma espécie de autoboicote. Então eu pensei, pensei, e decidi que tinha que achar uma alternativa mais acessivel, em particular algo que eu pudesse praticar na minha terra natal. Ai eu pensei no surfe. Esquiando nas ondas.


A ideia era otima, adoro a vibe dos surfistas e a sensação de ter uma conexão com o mar, logo eu, Janaína Iemanjá, mas eu não sabia nadar. Animada com meu namorado que foi trabalhar numa usina nuclear e morou numa cidadezinha fim de mundo e uma das poucas coisas legais que tinha la era a piscina olimpica onde ele ia nadar todo dia, me inscrevi na natação.


Estou la firme e forte. Ainda não aprendi o crawl direito e borboleta nem vamos conversar. Alguma coisa me captou. A agua é morninha e às vezes na lua cheia, quando nado costas, nós duas (eu e a lua) ficamos brincando de quem pisca primeiro perde. Geralmente sou eu. A prô me ajuda a colocar a touca, porque senão eu ia acabar arrancando uma sobrancelha (ou duas!), e às vezes pega pesado comigo, mas ela quer me mostrar que meus limites sempre estão mais longe do que eu penso.
Estou amando não ser boa, e tentar, tentar, tentar, e ficar orgulhosa de ter melhorado um pouquinho. Mês passado, fizemos uma prova de resistência. A aula inteira nadando crawl, pra ver quantas voltas conseguiamos dar. Cheguei 10min atrasada e fiz 32 voltas. Meu coleguinha de 9 anos fez 78. Meu dentista tem 80 anos e também nada, começou a aprender mesmo quatro anos atras. Entre uma competição e outra, acabou ouro do Nordeste nos 100 e nos 400m. Categoria 80-84. Por enquanto estou na desvantagem, mas esperem so mais quatro anos...

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Piscar de olhos

Em algum momento da minha adolescência, eu era extremamente intrigada com o passar do tempo. Começava a subir a escada e de repente ja estava no meu andar. Um piscar de olhos e ja era fim do mês. Pesquisava teorias na internet e escolhi a que mais me agradou (a mais logica). Uma delas dizia que Deus estava apressando as coisas porque os tempos não estavam bons (tá, essa eu nem vi na internet, ouvi foi no salão mesmo).
Alguns momentos são curtos mas ficam gravados na memoria, seja por um motivo sério, seja pelo acaso. Logo antes de viajar pra França, uma veterana, que tinha acabado de chegar, me falou assim: "Vai passar num instante!" Nas vésperas da viagem, morrendo de ansiedade, eu não podia estar menos propicia a acreditar. Quando vi, estava de volta ao Brasil (mal deu tempo de escrever algo por aqui, tão rapido que foi!).
Esse semestre voou de jatinho. Meu ultimo drama não me sensibiliza ha meses, desde que decidi guarda-lo na gaveta. Hoje enfim paguei a multa por não ter votado nas ultimas eleições, porque não conseguia achar tempo livre desde... o ano passado. (Nem dinheiro! 6 reais não é mole não!) De um modo geral, saldo positivo: curti shows de bandas queridas, coisa que não ia ha anos, desenterrei leituras da estante, viajei e cuidei do meu bem-estar corporal. Talvez so tenha faltado um pouco mais de amizade. O problema é que morar minutos a pé de todos os seus amigos e dividir todo o seu mundinho (escola, refeições e tempo livre) com eles durante dois anos te faz criar um novo conceito de amizade que é impraticavel na sua vida normal. As vezes são semanas, meses! para conseguir marcar um encontro, ainda que essas mesmas amigas sempre consigam um tempo livre para ver o namorado semanalmente. Fica aquela solidão que te faz curtir mais você mesma.


terça-feira, 4 de março de 2014

"My mother is the longest love affair of my life"

Ja ha varios meses eu estou me preparando pra ter essa conversa com a minha mãe, que não sai. Não vai ser facil, e estou depositando tantas expectativas de que depois dela tudo estara lindamente resolvido que é capaz de so rolar uma grande decepção. (Ou de a conversa resultar em respostas nada consolantes...) E apesar dessa forte crença de que tudo se arranjara depois, não consigo dar o primeiro passo. Por que é um assunto delicado, porque é meu futuro, porque eu estou tão terrivelmente dividida, porque não se pode ter certezas certas na vida, porque... é dificil.
Enquanto isso, esse meu problema me causa maus humores, falta de vontade e sede de saudade... Como solução temporaria, fui quinta-feira dar aula de desenho numa creche.


É uma creche-orfanato, e as crianças são simplissimas e 100% carentes (de amor, antes de tudo). Ao final, uma aluna que eu pensava que nem tinha dado a minima pra aula chegou me abraçando e agradecendo. Se eles falavam o tempo todo que os gatos deles estavam feios e tortos, é porque so queriam carinho. Dei o meu maximo, escondendo no fundo do coração a minha culpa. Culpa pelos privilégios que eu tive durante toda a minha vida, e por estar onde estou porque nasci do utero da minha mãe e não do de outra mulher. Porque boa parte da minha personalidade e do que eu faço tem como base essa culpa. Da minha escolha profissional aos meus gastos mensais. Minha "falta" de ambição e minha pão-durice. Porque eu deveria me dar ao luxo de fazer tal coisa com tantos milhões vivendo abaixo da linha da pobreza? Eu não preciso disso. Afinal, nem é isso que realmente importa na vida. E o que é que realmente importa?
Ai entra o meu problema. Porque, nesse momento, o que realmente importa pra mim vai contra tudo o que eu sempre acreditei.
Eu preciso falar com a minha mãe pra ela me ajudar a conciliar esses dois eus.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A novela da mudança


Meses de preparação não evitaram o frio no estômago, muito menos que eu juntasse todas as minhas forças para evitar qualquer sério envolvimento com a mudança. Cheguei de viagem e mamãe me solta varias bombas: uma semana para trocarmos de apê, nova mesa de jantar (com cores de cadeiras seriamente duvidosas), arquiteta que subitamente viajou de férias. Foi uma semana comprando lâmpadas, tomadas e tinta. Começando a embalar algumas coisas. Levando as coisas pro novo apê. E então ja havia passado sete dias e os três caras da Mudanças Fortaleza tocaram a campainha. (Blim blom!)
O esquema era simples: cada hora em que usassemos o serviço da empresa custava um preço fixo. Eles chegaram às oito, começaram embalando os livros, mas ao meio-dia ainda não tinham terminado. Nem às duas. Nem às quatro. Nem às sete. Tivemos que bolar um plano B, e entregamos nossos pertences a Deus e ao caminhão da empresa, porque na hora do rush não podiamos usar o elevador do novo prédio para chegar com a mudança.
As gatas dormiram sozinhas, em casa. Mamãe e eu dormimos num apartamento estranho, de rede, em quartos vazios mas incrivelmente ventilados (conforme a promessa da compra).
Acordei às 5 da manhã com um toró invandindo o cômodo pela janela. Fechei. As seis ainda chovia. E às oito. E às 9h20, quando o caminhão da mudança enfim chegou.
O descarregamento do caminhão durou o dia inteiro, alternando entre momentos de sol e chuva, entre pausas e trabalho intenso (e preguiçoso). La pelas duas da tarde, um dos caras me solta uma pérola:
- Vai dar bem pouca horinha, hein, essa mudança de vocês!
Fiquei calada.
O dia seguinte conseguiu ser pior. A casa infestada por caixas de papelão, todas elas repletas de coisas, algumas quebradas, muitas empoeiradas, e varias desaparecidas. Desempacotar não é legal. Passar o dia espirrando não é legal. O meu nariz reagiu mal na verdade à noite anterior, quando trouxemos as gatas para o novo apê.
Em toda a confusão de mil coisas pra fazer, eu nem lembrava do detalhe de que so temos uma caixinha pra gato. Da época em que as duas eram pequeninas e magrelas e cabiam juntas (ou que eu so ia ao veterinario com uma por vez). Em pânico com essa repentina troca de mundo, elas nem quiseram saber de viajar juntas (e nem caberiam, balofas que estão). Artemis e seus 5kg de nervosismo foram na caixa, e passei uma boa hora com Nina no colo antes de deposita-la em solo extraterreste, hora essa que se alternou em: mamãe entregando a chave de casa à nova proprietaria, mamãe tagarelando com a nova proprietaria, nova proprietaria entregando uma caixa de chocolate de presente para nos, eu e mamãe discutindo o jantar e mamãe parando numa pizzaria para comprar uma milho-marguerita pra viagem (enquanto isso eu, Nina e Artemis trancadissimas no carro). Naquela viagem eu fiquei quase tão em pânico quanto elas duas, com medo de que qualquer improbabilidade infeliz desse um jeito de acontecer e me separasse delas.
A casa esta ok. As paredes insistem em permanecer nuas, mas varios enfeites ja apareceram pelas mesas, e as almofadas estão nas cadeiras. A nova mesa de jantar é linda e contém 1 bolo de banana logo em cima, assim como varias frutas. Não passo calor, mas adoro tomar banho no meu novo banheiro porque me sinto no velho chuveirão do sitio.
As gatas passeam pra la e pra ca, dormem do ladinho no sofa e dentro do guarda-roupa (porque juntinho das minhas roupas sentem o cheiro de casa).

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Bonne année!

Uma vez uma amiga me disse assim: que mesmo às vezes quando estava muito triste e arrasada e de coração partido, chorando lagrimas com os 70% de agua do corpo, ela se sentia feliz. Feliz porque aquilo era uma prova da sua humanidade, ela estava tendo toda a sua existência dominada por emoções, e era com certeza melhor do que o vazio.
A minha mãe, que adora falar no triângulo corpo-mente-coração e de como é necessario equilibrar os três para poder se considerar saudaval, também sempre diz que não se deve reprimir emoções. Se deu vontade de chorar, é pra chorar. Senão o sentimento ruim vai buscar outra forma de ser eliminado.
Assim, eu gosto de chorar. E quando eu me sinto triste, eu choro. As vezes é ruim, encharca o travesseiro e eu fico com medo de assoar o nariz, fazer muito barulho e acordar mamãe (e ela vir me perguntar qual o problema). Esse ano mal começou e ja conta com alguns litros de lagrimas, particularmente na noite do ultimo domingo, às 00h, quando eu cheguei de viagem e mamae ja tinha ido dormir.
Mas o ano começou com beijo e champanhe, gin tônica no teto (sabe mentos e coca-cola?), risadas e uma meia calça que não parava de cair. Pelos acontecimentos eu interpreto que vai ser um ano de amor, de surpresas explosivas e que eu não vou mais conseguir esconder quem eu sou e o que eu quero. Até parece! Quem eu sou até passa, mas o que eu quero? Taí um enigma da esfinge.