terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A novela da mudança


Meses de preparação não evitaram o frio no estômago, muito menos que eu juntasse todas as minhas forças para evitar qualquer sério envolvimento com a mudança. Cheguei de viagem e mamãe me solta varias bombas: uma semana para trocarmos de apê, nova mesa de jantar (com cores de cadeiras seriamente duvidosas), arquiteta que subitamente viajou de férias. Foi uma semana comprando lâmpadas, tomadas e tinta. Começando a embalar algumas coisas. Levando as coisas pro novo apê. E então ja havia passado sete dias e os três caras da Mudanças Fortaleza tocaram a campainha. (Blim blom!)
O esquema era simples: cada hora em que usassemos o serviço da empresa custava um preço fixo. Eles chegaram às oito, começaram embalando os livros, mas ao meio-dia ainda não tinham terminado. Nem às duas. Nem às quatro. Nem às sete. Tivemos que bolar um plano B, e entregamos nossos pertences a Deus e ao caminhão da empresa, porque na hora do rush não podiamos usar o elevador do novo prédio para chegar com a mudança.
As gatas dormiram sozinhas, em casa. Mamãe e eu dormimos num apartamento estranho, de rede, em quartos vazios mas incrivelmente ventilados (conforme a promessa da compra).
Acordei às 5 da manhã com um toró invandindo o cômodo pela janela. Fechei. As seis ainda chovia. E às oito. E às 9h20, quando o caminhão da mudança enfim chegou.
O descarregamento do caminhão durou o dia inteiro, alternando entre momentos de sol e chuva, entre pausas e trabalho intenso (e preguiçoso). La pelas duas da tarde, um dos caras me solta uma pérola:
- Vai dar bem pouca horinha, hein, essa mudança de vocês!
Fiquei calada.
O dia seguinte conseguiu ser pior. A casa infestada por caixas de papelão, todas elas repletas de coisas, algumas quebradas, muitas empoeiradas, e varias desaparecidas. Desempacotar não é legal. Passar o dia espirrando não é legal. O meu nariz reagiu mal na verdade à noite anterior, quando trouxemos as gatas para o novo apê.
Em toda a confusão de mil coisas pra fazer, eu nem lembrava do detalhe de que so temos uma caixinha pra gato. Da época em que as duas eram pequeninas e magrelas e cabiam juntas (ou que eu so ia ao veterinario com uma por vez). Em pânico com essa repentina troca de mundo, elas nem quiseram saber de viajar juntas (e nem caberiam, balofas que estão). Artemis e seus 5kg de nervosismo foram na caixa, e passei uma boa hora com Nina no colo antes de deposita-la em solo extraterreste, hora essa que se alternou em: mamãe entregando a chave de casa à nova proprietaria, mamãe tagarelando com a nova proprietaria, nova proprietaria entregando uma caixa de chocolate de presente para nos, eu e mamãe discutindo o jantar e mamãe parando numa pizzaria para comprar uma milho-marguerita pra viagem (enquanto isso eu, Nina e Artemis trancadissimas no carro). Naquela viagem eu fiquei quase tão em pânico quanto elas duas, com medo de que qualquer improbabilidade infeliz desse um jeito de acontecer e me separasse delas.
A casa esta ok. As paredes insistem em permanecer nuas, mas varios enfeites ja apareceram pelas mesas, e as almofadas estão nas cadeiras. A nova mesa de jantar é linda e contém 1 bolo de banana logo em cima, assim como varias frutas. Não passo calor, mas adoro tomar banho no meu novo banheiro porque me sinto no velho chuveirão do sitio.
As gatas passeam pra la e pra ca, dormem do ladinho no sofa e dentro do guarda-roupa (porque juntinho das minhas roupas sentem o cheiro de casa).