terça-feira, 30 de julho de 2013

Maternidade é ser mãe. E ser filha?

Com a minha mãe, eu tenho uma relação dividida. Se quando eu assistia muito Gilmore Girls e interagia pouco na escola ela foi minha melhor amiga, ela também é uma das poucas pessoas com quem eu me zango. Com ela, eu posso tudo: sou eu mesma 100% à flor da pele, sem medo de ser chata ou de ser julgada. Me entrego inteiramente no quesito personalidade, mas não costumo compartilhar os meus segredos mais secretos.
Nos amamos ir ao cinema juntas, de noitinha, de vestido, e comer uma pizza depois. Eu adoro quando de manhã no café ela me narra o filme que viu na véspera na TV, por mais boba que a historia seja ela sempre parece incrivelmente genial contada pela minha mãe. Mamãe é zen, gosta de tomar cha de tardezinha e sempre tira soneca depois do almoço se tiver tomado uma taça de vinho. Quando eu evito dividir os assuntos do coração, ela me coloca na parede delicadamente: "Querida. Eu estou lhe fazendo essas perguntas porque eu sou sua mãe e me preocupo com você. Eu te amo, e tudo o que eu quero é que te respeitem e gostem de você como você merece."
As vezes eu tenho vontade de inverter os papéis. Mamãe ficou orfã ha três anos e esta quase entrando na aposentaria, eu queria consola-la e ser ouvida. Mas porque quando não nos vemos ha meses eu sorrio e abraço, mas evito os beijos molhados? De onde vem essa repulsa ao carinho maternal? Ando encucada com a nossa relação, porque de vez em quando ela é tão superficial quando poderia ser tão mais, tão intima, tão proxima.
E mamãe é tão doce. Me manda email sem nenhum conteudo, sem pontuação, so com titulo: "Ligue agora estou com saudade". Ela não precisa dizer mais do que isso.
Minha madrinha me mandou um presente de aniversario no começo do mês de abril, para se certificar de que o pacote chegava antes do dia 20. Mamãe, sabendo e sendo mãe, so pôde mandar o pacote depois, mas ela foi a primeira a me ver no mundo e queria ser a primeira a dar presente, então pagou um notão pra o pacote chegar em 5 dias uteis. No dia 23/04, recebi um aviso de que tinha um pacote nos correios me esperando. Era da minha madrinha. O pacote da minha mãe nunca chegou, e quando passou toda a loucura de fim-de-semestre-entrevista-de-estagio-despedida-dos-amigos, fui nos correios perguntar onde diabos estava o pacote EB028856040BR. Eram 4 da tarde. O pacote tinha sido enviado de volta ao Brasil às 11. Eu fiquei arrasada. Mamãe ficou arrasada. No dia das mães, fiz um haikai.

triste volta do mimo
será seguida pela
feliz volta da mima

Eu chamo mamãe de mami. Ela me chama de mima. A inversão de silabas define bem a nossa relação e a minha vontade de invertê-las mais uma vez, sempre sem sucesso, como também a semelhança das palavras representa a nossa proximidade. Pro meu retorno eu tenho inumeras metas, mais do que posso contar e do que poderei cumprir. Continuar a ioga, aprender a dirigir, oferecer almoços de domingo, dar aulas de francês… investir na relação com mamãe.
Quando minha mãe se ofereceu pra vir me trazer na França, eu recusei de imediato. Imagina! Minha mãe! Me trazer na França, de avião! Uma coisa era ela me levar de carro na faculdade, quando todo mundo ia de busão ou dirigindo o proprio carro, porque ela estava simplesmente indo pro seu lugar de trabalho. Não tenho vergonha da minha mãe. Mas dai a pagar ida e volta de avião pra me deixar em outro continente… Eu sei que ela so queria se certificar de que eu ia chegar bem e estar bem instalada, mas… Limites.
Quando minha mãe se ofereceu para vir me buscar na França, eu pensei que seria bom, mas que não precisava tanto assim, e que se ela tinha dinheiro pra pagar ida e volta de avião, ela faria melhor depositando na minha conta pra eu poder viajar mais por aqui.
Quando eu confessei pra mamãe que talvez tivesse sido uma boa ideia que ela viesse me pegar, ja era tarde demais, meu bilhete comprado ha meses, o final se aproximando a largos passos. E imagina! Minha mãe! Aqui! Adiantando a minha sensação de volta! Ocupando minha presença quando eu poderia estar curtindo as pessoas que vou rever sabe-se la quando!
Quando minha mãe confessou que queria muito vir me buscar na França, eu não pude dizer um terceiro não. Eu sabia que ela tinha que vir, me ajudar com as malas de lagrimas e os quilos de tristeza, conhecer minha casinha e curtir comigo os ultimos diazinhos de Lille. Ela tinha milhas pra pagar o trajeto de volta e jurou não atrapalhar meu feriadão romântico no mar Mediterrâneo. Ela vem de férias e por acaso vai voltar no mesmo avião que eu.


segunda-feira, 8 de julho de 2013

domingo, 7 de julho de 2013

"It's beautiful." "What?" "Life. So Long."

Durante um almoço na cozinha essa semana, o assunto da mesa foi amor e casamento. Os homens (maduros, experientes, na quarentena) expuseram suas opiniões sobre a vida em casal e as meninas (jovens, ingênuas, 22 anos) seus sonhos de amor verdadeiro. Clic. Vou ao cinema assistir Antes da Meia-noite, depois de acompanhar Jesse e Céline desde mesmo antes do meu primeiro beijo. Fico com uma dor de cabeça terrivel durante a hora e meia (eu, a menina natureba que não tem dor de cabeça) e saio com o humor mais baixo do que subsolo (tendo amado o filme). Clic. Peço ajuda por email numa macro do Excel e recebo uma planilha com a solução – e um grande I <3 U em rosa e vermelho.
Aos 15 anos, eu me inventava historias de amor malucas: um cara de moto que se oferecia para me dar carona até o colégio quando eu estava extremamente atrasada, correndo desesperada pelos quarteirões, um rapaz que deixaria um recadinho na minha carteira, com quem eu teria conversas interessantes e inteligentes durante semanas antes de nos encontrarmos ao vivo. Na vez em que um estudante de filosofia me parou pra entregar um poema sobre mim que ele tinha escrito enquanto eu tirava umas xerox, sendo que nos tinhamos pegado o mesmo ônibus, eu fiquei tão apavorada imaginando ele me seguindo que nem dei meu telefone. A vida é melhor que a imaginação, porque ela é como a nossa moeda: real. (Eu sou funny!!!!) Mas esse adjetivo traz com ele todo o pacote de realidade. E com esse pacote não tem devolução: é pegar ou largar, o que torna tudo mais excitante e dificil. Milan Kundera ja falou... "Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?"
No fim de semana passado eu visitei uma usina nuclear (de fora), e nunca estive tão proxima de uma arma de destruição em massa. Dentro do carro, ouvindo a explicação dos três circuitos existentes numa usina nuclear e vendo o vapor danado que não parava de ser liberado na atmosfera, fiquei pensando que se por acaso houvesse um acidente eu estaria numa zona de extremo perigo e ai a musica dos Smiths tocou na minha cabeça. Mas meu interesse em destruir o meu pacote é menor do que zero, eu quero abri-lo e descobrir cada um dos itens que a vida separou pra mim, encontrando o que eu encomendei e me surpreendendo de achar algumas lacunas ou surpresas.