domingo, 14 de agosto de 2011

A furada em que estou me metendo

Minha câmera digital quebrou na viagem de carnaval, e esse borrão verde-oliva foi a primeira das últimas fotos que ela tirou: minha mãe e mãe de Rachel se despedindo malucas de nós duas. Comprei uma câmera descartável e me virei como pude nos últimos meses, sem muita questão de registro. Estou mais na vibe tem-que-viver-viver-valer e depois sorrir com o canto da boca e me preparar para mais.
As meninas da nossa viagem a Minas, por outro lado, não conseguiram passar sem 6000 fotos de todas as paisagens e todas as pessoas posando para todas as lentes. Ontem, uma noite para relembrar: uma seleção de 1400 fotos, uma garrafa de cachaça, queijos e pães e um caldinho de abóbora para acionar o inconsciente.
Em algum momento eu entreouvi mamãe dizendo que uma teoria da equipe médica da van sugeria que o mal que passei se devia ao emocional. Na hora eu soltei a melhor das minhas faltas de ar, mas como eu realmente adoro dar significados profundos a todo tipo de tema, matutei.
Faz todo o sentido.
Eu estou agonizando com essa viagem.
Se fico sozinha em casa, entro num estado vegetativo de depressão e solidão do qual mal consigo sair. A minha sorte é a programação diária intensa de curtição e despedida dos amigos e da cidade. Só tenho mais dez dias em Fortaleza, e quando vou fechar a porta da cozinha para aproveitar a vida além dessas paredes, olho para a iluminação fraca e amarelada que eu conheço tão bem desde meus dez anos e bate uma saudade. Nonó ainda está doente, recolocamos o cone e fica num chamego só, tristinha e desequilibrada. Tetê ficou balofa e maravilhosa, fica miando linda chamando para ficar vendo ela comer. Rosa fica dizendo que tem que me ensinar a fazer baião-de-dois, cuscuz e tapioca. Celina me perguntou se, depois que eu viajasse para a França, eu ia voltar nos fins de semana. Eu disse que não. Ela perguntou: "Ah, você vai voltar só aos sábados, né?" Eu disse que não. Ela perguntou se eu ia voltar nas férias. Eu disse que não sabia.
O que me aterroriza nas viagens de carro em que eu e mamãe ficamos em silêncio, ou nos momentos no sofá em que a TV não está ocupando meu pensamento satisfatoriamente é: eu tenho medo da solidão. Ficar sozinha em casa é ok, ficar sozinha no mundo é solidão. Quanto tempo vai demorar até eu transformar minha futura residência em um lar? Eu tenho medo dessas coisas.
Feri minha córnea e estou passando um antibiótico no olho há algum tempo, e, embora ele embote minha vista, não fico impedida de ver a vida maravilhosa e satisfatória que eu construí aqui em Fortaleza. Eu me pergunto: por que eu fui inventar isso? E eu me respondo: porque eu estou pronta, mas tenho direito a uma colher de nervosismo.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mamãe, Minas Gerais e meleca

Desde que eu nasci, temos sido eu e minha mãe, juntas na vida. Aconteça o que acontecer, no final do dia somos nós duas dando boa noite uma à outra. É no colo dela que eu choro. Sou eu quem a consola quando a caixa com o adesivo de FRÁGIL é aberta e o sonho aparece partido. Na noite em que minha mãe ficou sabendo do meu intercâmbio com duração de dois anos, ela não dormiu. Algum tempo depois, ela me perguntou se algum pai ia deixar o filho. (Na França.) Eu fiz um escândalo e depois ela repassou a história dizendo que eu achava um mico. Eu expliquei que usar a palavra mico já é vergonhoso.
Mesmo percebendo que ficaria impossível terminar a autoescola, mais impossível seria recusar o convite de mamãe de fazermos uma viagem de amor & despedida entre mãe e filha com duração de 10 dias pelo interior de Minas Gerais, um grupo de 12 pessoas e uma van fretada.
Chegamos de viagem há 10 dias, mas no aeroporto Celina correu para me abraçar e gritar e mostrar os três anéis que estava usando: um amarelo, um vermelho e um lilás. Ela disse que sentiu saudades e confessou que tio João queria brincar mentindo que Nina tinha morrido. Se Celina não tivesse se adiantado estragando a brincadeira (DE MUITO MAL GOSTO), minha alma teria saído pela boca e o sangue pelos olhos, eu desmaiaria em cima das malas e morreria de desgosto antes que me explicassem a piada (PIADA?). Acontece que pouco antes de eu viajar, Nina e Artemis se meteram em briga (normal), Nina saiu ferida (incomum) e coçou tanto a testinha (linda) que ficou com uma ferida que infeccionou e acabei gastando 140 reais no veterinário. Só pude fazer 5 dias de tratamento por causa do intervalo curto entre Goiânia e Minas, mas foi comprimido, pomada, colar elizabetano e comida na boca. Quando eu tirei o colar na véspera da viagem, Nina coçou a testa, tirou todas as casquinhas, apareceu com a pata vermelha de sangue e a testa em carne viva de tanto coçar. Quando eu estava voltando de uma festa em Belo Horizonte três horas depois do combinado, piradíssima, sem um pingo de culpa, precisei pensar na morte de Nina para ficar séria perante mamãe, e funcionou.
Não tivemos nossa viagem de amor & despedida, porque mesmo eu, moça lida e educada, estou na fase de irritação adolescente com mamãe. Meus argumentos são sólidos, mas não consigo dialogar carinhosamente por impaciência com o eterno conjunto de desfavores que observo minha mãe fazer consigo mesma. Consigo falar do meu cotidiano (um sanduíche delicioso, um cinema prazeroso, o trocador engraçado), mas ouvir sobre o cotidiano dela me aborrece, por causa do desfavor mais imenso de todos, que ela conhece e do qual não consegue desviar. Taí outro desfavor. Não consigo falar de todas as novas coisas que têm me empolgado e soprado mais ar no meu pulmão, porque ela está melhor sem saber. Se eu fosse contar o que fizemos nas três horas adicionais, ela... desmaiaria? morreria de desgosto? alma saindo pela boca, sangue pelos olhos? Como contar que eu quero dormir no deserto na viagem que eu quero fazer para o Marrocos no meu aniversário?
O que mais me empolgou no intercâmbio foi: viagensssssssss, Françaaaaaaaaaa, friiiiiiiiiio e férias de mamãe. Porque eu sei que vou sentir saudades e que pelo menos isso vai camuflar meus incômodos que ficam tão evidentes quando você mora na mesma casa, e são potencializadas quando você viaja junto durante dez dias, dia e noite, noite e dia, na praça ou no quarto, na rua ou no carro. Não quero listar os defeitos que eu vejo na minha mãe, quero citar esse defeito que vejo em mim, e que é dos maiores: a minha incapacidade de ter com minha mãe uma relação verdadeira. Se eu já me sinto sem pai e os jantares na casa de vovó acabaram, quem vai ser minha família?
Eu, tal como fiz no vestibular, estou escolhendo o banho de água gelada, esse enorme corte do cordão umbilical, com uma tesoura do tamanho do oceano Atlântico. Fico esperando que novamente o banho se mostre uma maravilha no calor tropical da minha vida.
Minas Gerais é um estado maravilhoso, lindo de acalmar a vista e parar o coração. Fizemos parte do percurso da Estrada Real, tomamos caldinho e comemos pão com queijo minas e várias geleias. Todas as passageiras da van acharam que cachaça era água. Passei um friozinho delícia que transformou a noite embaixo do cobertor de pena de ganso em divina. As estrelas em Lavras Novas eram diamantes polvilhados em tutu de feijão. Fica um grande gritinho para todas as meninas, para Fernandinho, para a nossa companheira inseparável HEL-0800 e para Gab, com quem vivo tudo aquilo que sonhávamos nas nossas cartas de 2004.
Já não fazia quadrinhos há algum tempo, mas tenho uma história horrível demais para ficar só comigo (e as meninas da van). Só leia se tiver estômago.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Rachel e Beijo

Rachel tem uma calopsita macho chamada Beija-flor que ela carinhosamente chama de Beijinho e chama com beijinhos. Ele vive solto pela casa e não larga do ombro dela, ou da cabeça, ou da perna, ou do sofá, quando ela está vendo TV. Assim como ela, ele tem bochechas rosadas.

P.S.: Desenhar na tablet é tão difícil que eu só faço e vai e fica do jeito que foi. Não consigo me ver nos desenhos, mas fico torcendo que um dia vai melhorar...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Lar é onde seu coração está

Viajei a Brasília para tirar meu visto e quase deixava de ir pra França porque descobri na hora que tinha que pagar uma taxa de 115 reais: uma quantia muito acima do dinheiro que havia na minha carteira. Fiquei no apartamento mais acolhedor de toda a galáxia: dizer que ali eu encontrei um lar é pouquíssimo, porque eu encontrei incontáveis lares. Em cada pedacinho de espaço que você imaginar numa casa, a dona do apartamento tinha inserido uma casinha. De barro, de madeira, de pedra, outra de barro, madeira, pedra, metal, madeira, pedra, madeira... Todas lindas e doces, com flores, pessoas, janelinhas e cortininhas mínimas, telhados pintados ou ausentes, só para dar pra visualizar o seu interior. Na mesa do computador, outra mesa: muito menor, com uma cadeira de madeira e um gatinho, várias gavetas (abri todas) e alguns livros empilhados (que eu descuidadosamente derrubei atrás da mesa de tamanho real, a do computador, e tive que ruidosamente empurrar vários móveis para recuperar). Eram três: os volumes I, II e III de uma Enciclopédia do Amor, com recadinhos doces para preencher corações de todos os tamanhos.
O banheiro era do outro mundo, Mônica, a linda dona, emendou o quartinho de serviço para transformar numa banheira. Numa banheira. Uau. Eu fiquei me roendo de vontade de ir lá e tomar o banho dos deuses na capital desse meu país, mas já estava sendo tão intrometida ficando na casa de Mônica, que eu nunca vi, quando ela estava viajando pelo Rio que deixei para lá.
De Brasília fui pra Goiânia pro Encontro Nacional do PET (ENAPET), que foi muito melhor e muito pior que sua versão nordestina. Sem entrar em muitos detalhes, como uma pequena desorganização, o individualismo generalizado e a decepcionante conspiração final, valeram a pena: o frio de gelar os pentelhos, dormir em barraca (com edredom), as risadas das madrugadas, o encontro de engenharia clandestino e as discussões sociais.
Os SMSs que mamãe me manda também sempre me deixam feliz, tipo um dia de mensagens insistindo que eu comprasse o edredom (não dá pra imaginar o frio que passamos na primeira noite. No dia seguinte, um cara do Paraná nos pergunta porque não trouxemos cobertor. Resposta geral: "Mas nós não temos cobertor!!!!!!").
Filha, se agasalhe para nao adoecer. Use meia grande para dormir.Te amo
(quando eu disse que tinha feito frio à noite)

Compre sim, que aquece bem.
(quando eu disse que ia comprar edredom)

E aí? Comprou o edredom? Passeou?
(quando eu não respondi dizendo se tinha comprado)

Comprou o edredom? Beijos. Mami
(idem)

E a noite como vai se agasalhar
(quando eu disse que ainda não tinha comprado porque ainda estava no evento)

Que bom é se amar, se cuidar. Te amo mami
(quando eu disse que ia comprar na rodoviária, na hora do jantar)

Aproveite faca amigos conheca lugares
(quando eu disse que o evento estava legal)

Estarei la pra pegar cinderela.embalou edredom? Mami
(quando eu disse que chegava em Fortaleza à meia-noite)

domingo, 3 de julho de 2011

Um vestido e um desenho

Na véspera do dia dos namorados, eu e uma amiga compramos vestidos iguais. É um vestido florido, simples e perfeito para o verão, lindo.
Hoje, Celina escolheu a roupa que eu usaria no aniversário da mãe dela: esse vestido, que eu carinhosamente chamo de Rosangela.
Minha amiga Rosinha está atualmente em Paris, apaixonada pela cidade, e hoje usou o mesmíssimo vestido para ir ao Louvre.

domingo, 19 de junho de 2011

As últimas noites de sábado

Talvez seja por eu não namorar, ou por ter muita testosterona na minha faculdade, mas no topo da minha hierarquia pessoal de valores, ao lado da família, está a amizade feminina. Fim de semana passado tive o melhor dia dos namorados da minha vida, dividido no combo sábado-domingo-segunda. No shopping gastei quase tanto dinheiro quanto custou o último presente de aniversário da minha mãe (um kit de colcha de cama de matelassê com fronha e lençol). Pintei as minhas unhas de craquelado e as de nova bff de arco-íris. Fiz brownie e assisti Doctor Who. Comi sorvete com chantilly e teve briga de jogo americano na cozinha.
Faltei uma semana e meia de francês por causa do fim de semestre, e quando reapareci não só descobri que as provas começavam no dia seguinte como ainda apresentei um exposé (cujo tema descobri no dia). Só faltam duas cadeiras pra eu estar oficialmente free, e estou muitomuito satisfetia com meu desempenho nesse semestre. Foi tudo extremamente divertido e, de fato, como todos sempre falaram, meu coro engrossou. Você é uma pessoa diferente depois de tantos transistores, rotacionais e transformadas. Virei algumas noites (ainda devo virar uma ou outra), passei vários sábados na universidade, dormi em muitas aulas... e valeu. Gostei mesmo foi do elogio que eu recebi da pessoa não-formada mais inteligente que eu conheço (e ele não deve ler isso, porque já tem o ego muito grande): "Você é uma idiota mais inteligente que os outros idiotas quaisquer".

domingo, 22 de maio de 2011

Em busca de catchup

Fomos a essa festa a fantasia num cinema pornô, e na volta Rachel queria porque queria um pouco de catchup para colocar na lasanha que nós tradicionalmente comemos quando chegamos em casa. Ela sempre reclama que nunca tem catchup na minha casa, mas isso é porque ninguém come catchup aqui em casa, se fosse ter seria só pra ela. Assim, 5 da manhã subimos no táxi e imploramos por um supermercado 24 horas no caminho de casa.
A primeira opção, na grande avenida que dá no meu prédio: fechada.
No caminho para a segunda opção, uma pequena padaria, quase abrindo: mas só abriria mesmo às 6.
A segunda opção, ao lado da rodoviária: fechada. O taxímetro já ia nos 15 reais, então desistimos e concordamos em voltar pra casa.
A poucos quarteirões de casa, o taxista apontou o Agostinho, um mercadinho que tinha costume de abrir cedo. Mas ainda não tinha aberto. Algum tempo depois, estávamos fazendo o retorno por debaixo do viaduto para logo chegar no meu edifício, e então a surpresa: a lanchonete esquisitíssima embaixo do viaduto perigosíssimo estava aberta! Desci com minha pintura borrada e a trança desfeita e pedi um pouco de catchup, eu pagava. A mulher só tinha no frasco, mas colocou num copinho de café e não cobrou nada. Voltei para o carro e satisfeitíssimas continuamos no caminho de casa. Na pracinha a um quarteirão de casa, todas as lanchonetes abertas!!! Fechamos a corrida, o taxista maravilhoso arredondou os 21 reais para 20 e Noite e Cinderela ficaram a pé. Consegui uns dez sachês no quiosque e finalizamos o percurso andando pelo bairro silencioso.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Nunca me considerei uma garota de espinhas

Eu demorei a ter espinhas. Mesmo no Ensino Médio, só no segundo semestre do segundo ano que elas foram estourar no meu rosto (várias de uma vez). Eu nunca me considerei uma menina espinhenta, mas ultimamente... parece que é a hora de se render. Eu tenho espinhas. E elas não param de aparecer. Eu vou ao dermatologista, eu uso remédios, as espinhas permanecem.
Eu tento não criar complexo, ser sempre superior a essa característica que agora é inerente ao meu ser (sem que eu nada possa fazer), o problema é quando alguém chega...
- Jana, tua pele melhorou!
- ...Você quis dizer que um dia ela esteve ruim?!
Na adolescência, eu não conseguia deixar a infância. Agora, aos 20 anos, eu não consigo sair nem da infância nem da adolescência.

sábado, 14 de maio de 2011

Paternidade silenciosa

Algo que, a cada ano que passa, me impressiona mais e mais e mais é como eu consegui escolher a faculdade certa pra mim. São tantos argumentos contra a minha escolha que eu não consigo nem crer que eu esteja vivendo essa realidade.
Quando eu era criança, eu queria ser caixa de supermercado. Ou escritora de livros. Ou taxista. Durante muitos anos, eu me decidi por jornalismo. Hoje eu estou estudando pra virar engenheira. Não tem ninguém na minha turma com quem eu divida o meu gosto musical, ou com quem eu converse sobre quadrinhos, e no entanto no Ensino Médio todas as minhas amizades verdadeiras foram aquelas com quem eu compartilhava o mp3 na hora do recreio. Eu nunca morei com o meu pai, ou com qualquer animal do sexo masculino (todos os meus bichinhos, eliminando um único jabuti, todas fêmeas), e fiz vestibular para um curso com menos de 10% de meninas. Eu nem gostava de física elétrica!
O que eu gosto de pensar é que eu fui muito extremamente maluca saindo da minha zona de conforto conscientemente justamente para... sair da zona de conforto. Simples.
Com meu pai não consigo deixar nada muito simples. A cada sessão de terapia paterna sinto apenas que todo o esforço em criar amor só trouxe desgaste e nenhuma gota de felicidade. Já vão anos desde o início da reconstrução da relação. E necas. Depois de tanto tempo me achando tão cheia de problemas de relacionamento, parece que eu enfim consigo gostar das pessoas pelo que elas são (e não pelo que elas gostam), mas nem isso é suficiente, nããão. Eu tenho que aprender a amar o meu pai. De graça. Tirar o amor do bolso. Como criar um amor por uma figura que não existe realmente para você? Por uma figura que você sequer consegue fazer existir? Eu não consigo amar meu pai porque eu não entendo direito o que um pai faz. Na minha cabeça, os pais são secundários, apêndices da mãe. Por que minha vida toda, esse meu pai foi menos do que um sombra. O que um pai faz? Ano passado, no dia das mães, pedi que mami me contasse a minha história de antes de eu nascer. Eu nunca tinha perguntado nada. Mamãe contou. É curioso como alguns acontecimentos da sua vida podem te completar tanto e trazer tanta serenidade e solidão, simultaneamente. Quando baixou toda a história na minha cabeça, me senti... tantas coisas. Tantas coisas que eu não disse pra ninguém e não tenho intenção de dizer em nenhum futuro próximo, porque são tão íntimas. Basicamente, fico me sentindo só, e me sentindo eu.
Estava cobrindo a segunda página do quadrinho quando mamãe chegou em casa. Comentou da minha mecha retocada com papel crepom e pegou a folha A4 pra ler. Eu disse que ela não podia ler, porque, apesar de nossa relação ser ótima, não tem muito diálogo de intimidades. Ela ficou manhosa e leu mesmo sem eu ter deixado, mesmo estando ao meu lado. Ela achou super engraçado. Eu disse "Mãe, é uma história triste e não era pra tu estar rindo." "É que eu não consigo acreditar que uma criança que é a Celina tenha tido a engenhosidade de chamar teu pai de babau!!!" E eu fiquei sem entender o que há de tão difícil em associar as duas figuras, porque para mim é praticamente uma metonímia.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sou o cão chupando manga

Eu cheguei naquele ponto do semestre em que TUDO me cansa. Estou fedendo a preguiça e fadiga. É uma vergonha, não estudo há semanas e mal consigo prestar atenção às aulas. Chego meia hora atrasada, durmo meia hora e não consigo entender como a aula ainda não acabou pra eu poder ir embora. Ou então, se for das aulas nas quais não tenho coragem de dormir, olho pro relógio de 10 em 10 minutos. É uma vergonha! São as disciplinas mais legais que já fiz a vida inteira, todos os professores são uns máximos, mas eu não consigo! Essa semana foi uma VERGONHA TÃO GRANDE. Faltou energia um dia e fomos todos lindos tomar sorvete, menta, moça bonita, capuccino, melão, cobertura de uva e kiwi. No dia seguinte, não teve aula à tarde e fui olhar roupas em lojas de departamentos. No outro, mexi em html e depois ajudei um amigo a escolher o presente de dia dos namorados. Hoje eu passei a manhã morgando em casa, algo que eu tinha até esquecido como se faz. E no entanto estou aqui... Só. O. Caco. Fico arrasada com a minha fraqueza, mas o que fazer? Às vezes a gente se cansa mesmo. E não há TPM que dure um mês para eu poder botar a culpa, meu inferno astral já foi minha desculpa de abril e agora não tenho explicação. Estafa, apenas. Me sinto desperdiçando um tempo precioso com o qual poderia estar fazendo coisas maravilhosas, mas simplesmente não consigo fazer nada!!! (A não ser que envolva o site do PET, jogar mahjong, papear papear papear e planejar minha fantasia pra festa de sábado.) Mesmo com a minha viagem me espiando de todas as esquinas, o que mais tem me empolgado na vida é a amizade que estou construindo com uma menina que virou minha amiga esse ano. Está tudo maluco!
A única vitória desses 5 dias de cão foi meu segundo 10 em Eletromagnetismo, VIVAAAAAA! Faltei morrer quando um amigo disse que o professor me elogiou em segredo. Tive que insistir um bocado até ele dar o braço a torcer e repetir o elogio. "Ele disse que tu era o cão chupando manga." "Bruno, isso não é elogio."

sábado, 30 de abril de 2011

Ansiedade, 20/04 e A Festa do Apocalipse

ou Como apesar de todos os meus medos eu amei esse aniversário
ou Desculpa amigos lindos que me aguentaram maluca até altas horas
ou Obrigada amigos lindos que endoidaram comigo na minha festa pagã

A Terra tem mais de 6 bilhões de habitantes e pode ter certeza de que você é só mais um nessa multidão. Por mais que você ganhe o prêmio Nobel, ou que a foto da sua formatura esteja na parede da sua faculdade, existem mais outros 6 bilhões de pessoas que, assim como você, têm braço, perna, respiram e comem.
O dia do aniversário é o único dia que é só seu. Naquele dia, você é especial. Se o trocador do ônibus olhar sua carteirinha de estudante com um pouco de carinho, ele te dará parabéns, seus amigos te mandam SMSs, sua mãe te acorda com um abraço.
O problema reside em: eu fico querendo que seja o dia mais feliz do ano e isso não depende só de mim. Depende do que as outras pessoas estão dispostas a fazer por mim, mas será que eu posso ficar parada apenas esperando que os outros tornem o meu dia especial? Quando você já fez mais de dez aniversários, você percebe que não. Nos primeiros é simples porque, em teoria, você ainda é incapaz de organizar uma festa, de propôr brincadeiras, e suas tias, o palhaço, a produtora do buffet se encarregam disso. Talvez um ano você consiga uma festa surpresa, no outro ganhe o presente mais inesperado de todos, com o cartão mais sentimental, brega e belo, mas e no ano seguinte?
Ano após ano eu passo o dia 20 de abril em alvoroço, coração na boca, esperando que algo surpreendente me aconteça para que não seja só mais um dia no meu calendário. Nos dias anteriores, eu conto para todo, todotodotodotodo mundo que eu vou fazer aniversário, sem querer me decepcionar com algum esquecimento. No dia, eu fico de bico calado, para receber os resultados - sempre felizes. Apesar de tudo, eu gosto de espotaneidade, e quero que as pessoas se lembrem simplesmente porque gostam de mim.
Em 2009, marquei um piquenique e fiz do meu aniversário de 18 anos uma despedida da infância. Foi maravilhoso, apesar de toda uma enorme ameaça de chuva e dos inúmeros gatos no parque (que na verdade só coroaram a comemoração com sua doçura). Em 2010 não foi tão doce, estava cheia de expectativas que não se cumpriram, mas só tenho a agradecer a mamãe, que fez da festa na praia um dos momentos mais repletos de satisfação da minha vida. Eu passei semanas teimando que queria uma fogueira, lutamos atrás de uma barraca de praia que aceitasse atear fogo correndo o maior risco de causar um incêndio em todas as barracas (de palha!), e por fim conseguimos que um funcionário juntasse alguns gravetos e acendesse um foguinho. Mas mamãe tinha tido a ideia do século que encheu meu coração de alegria: pediu a todos que pegassem dois pedaços de papel e escrevessem uma virtude minha em um deles e um defeito no outro. Formamos uma roda e todos leram seus papéis. O do defeito, joga pra fogueira! O da virtude eu guardei com carinho no coração e numa caixa.
Em 2011, para comemorar meu último aniversário no Brasil (por algum tempo), eu estava decidida a fazer o máximo para ter lembranças maravilhosas. Para o dia 20, levei o melhor brownie já feito por mim e uma vela da Ariel para a faculdade. Cantamos parabéns na salinha do PET, eu arrumei as coisas, acendi a vela e soltei um: "Pronto, agora vocês podem cantar!" (Sou mandona!!!) Devoramos e estava uma delícia incomparável a qualquer outra coisa que eu tenha cozinhado na vida. Juro que não era só pela especialidade da data, porque todo mundo amou também. Voltei para casa a pé conversando sobre a vida com os meninos, algo que eu amo fazer, e à noite teve pizza com a família. Foi muito light e lindo. Meu priminhos meigos e minis fizeram big cartões repletos de fofuras e ganhei presentes, o que é sempre bom. Conversei sobre a minha prova oral do francês (uma excelente história que não pode ser publicada online), meu primo que quer virar piloto de helicóptero, homens, coisinhas de menina, assuntos lindos. Cheguei em casa em paz e dormi contentíssima porque não tinha aula no dia seguinte. (Fazer aniversário em véspera de feriado: eu recomendo.)
Sexta-feira (22) foi a festa mais maluca que eu poderia imaginar. A festa mais maluca que eu poderia imaginar. Na sexta-feira da paixão. Desculpa, mas foi. Eu marquei a data e nem percebi. A ideia era: meu pai, que veio de Salvador só para ficar comigo breves instantes antes que eu me mandasse para o exterior, pegava o avião às 14h da sexta, então só nessa data eu estaria livre para me divertir. Na sexta-feira seguinte (ontem) foi prova de Eletromagnetismo, então a semana pós-aniversário é semana-eletromag, então era bom ter o domingo livre para estudar loucamente. Assim, o sábado fica para a ressaca da festa, que fica pra sexta.
No sábado anterior eu fui numa loja de festas, e ajudei mamãe a estourar o cartão dela. Eu nunca consegui me despedir da infância no aniversário de 18 anos, e fiz a festa naquele paraíso de besteiras lindas. Sexta-feira minha bff chegou cedinho e me ajudou a:

fazer lembrancinhas (que chamamos carinhosamente de Kit Ressaca),
encher todas de ar para parecer que estavam cheias de coisa,
fazer cachorrinhos (a marca de qualquer festa na minha casa, incluindo os aniversários das gatas),
encher uma centena de balões (pode confiar, estava escrito na embalagem),
pregar metade deles no teto,
colocar as luzinhas piscantes de Natal pela casa,
colocar chantilly no bolo,
arrumar a playlist da night e
me maquiar (com a sombra que ela mesma me deu de presente).

A casa foi toda modificada para caber adolescentes dançantes (acabou sendo para caber a aniversariante dançante, mas amo todos que cederam aos puxões de "Dança comiiiiiiiiigo!"), velas foram posicionadas para finalizar a iluminação da casa e uma mesa foi posta ao lado do sofá com canetinhas, papéis e envelopes, à espera de pessoas amantes de Jana e seus cartões. No corredor de entrada, coloquei nossos calçados para incentivar todo mundo a também tirar os seus. Na parede do corredor de entrada, um cartaz repleto de bigodes, com o título: Escolha o seu bigode! O quarto da minha mãe, território proibido. A mesa redonda, com bolo, brownie e infinitas aranhinhas. Na cozinha, os drinks, com o cardápio feito verbalmente por mim: A Jana É Linda (vodca e fanta), A Jana É Maravilhosa (red fruits e gelo), etc, etc. (Não tem et coetera não, gente, eu fui impedida de continuar com minha lindeza pelos convidados e suas risadas de dó de mim.)
Foi a minha festa dos sonhos. A minha festa dos sonhos. Eu estava com tanto, tantotantotanto medo de ficar de coração partido, mas me diverti tanto, pulei até de madrugada, dancei todas as músicas que amo, chacoalhei o cabelo pra lá e pra cá, como eu jamais faria fora de casa, comi salgadinho, bombom, virei copos, mostrei meus livros, cantei errado, fiz tudo o que eu faço e me deixa feliz. E eu fiquei muito louca, com minha felicidade aumentada exponencialmente. Antes de tudo, eu estava com uma pilha de pessoas que amo no meu lar, que é, o quê?, o lugar que eu mais amo no mundo. Agradeço a quem amarrou meu cabelo com a fita dos balões, porque aliviou o calor e o black power. Agradeço a todos os cartões lindos de morrer com palavras pra guardar nas entranhas do meu miocárdio. Agradeço a todos que fizeram as filmagens, que, apesar de terem me deixado levemente fula na hora (voyeur! fecha! chega!), caem bem na hora da nostalgia (já assisti tudo duas vezesssss). No final ainda teve cantoria no karaokê. O parabéns só cantamos meia-noite, com os sobreviventes da festa, eu que "não contava [como sobrevivente]", só porque ainda estava muito felizzzzzzzz, muitas estrelinhas coloridas planando em pleno ar e dinheirinhos lindos que tiveram de ser jogados com a mão (o negócio não estourou!) e, fechando com chave de ouro, brilhantes e as cinzas do seu pior inimigo, briga de bolo. Briga. De. Bolo. Quando eu penso nas coisas que fazem de uma festa inesquecível, eu incluo briga de bolo. Mas eu sou racional, eu faço engenharia, eu estava na minha casa, era meu aniversário de 20 anos (não 8) e jamais considerei uma briga de bolo como integrante do carpádio de diversões da noite. De uma forma ou de outra, eu comecei essa briga. O chão, que já tinha estrelas coloridas, dinheirinhos, papéis de bombom e muitas cartas de baralho, teve que aguentar uma chuva de bolo.
Não tente imaginar a casa às cinco horas da manhã. Não tente. Nas filmagens, o momento em que minha prima volta para buscar a chave do carro e sair rapidinho é único. Porque ela não precisou imaginar a casa, ela viu. No vídeo, Carol diz: "Não teve briga de bolo. A Janaína não começou uma briga de bolo." E vocês ficam com esse sentimento.
As pessoas foram indo embora, outras foram ficando, uma me ajudou a limpar (MUITO OBRIGADA, LEONARDO!), e a casa estava medianamente apresentável quando mamãe chegou de manhãzinha, para pegar umas coisas e logo sair.
O sábado foi maravilhoso. Pra começar, eu mal consegui dormir, tão contente e satisfeita e felizzzz que eu tava, fiquei me revirando e virando no sofá e assistindo clipes de várias músicas que tocaram na noite, depois Sábado Animado, depois Edward Mãos-de-tesoura (mas desse só o final, porque as pessoas foram acordando e eu fui dando água e banana e fomos papeando de como estávamos felizes). Eu e bff terminamos os salgadinhos, começamos e acabamos uma das caixas de Ferrero Rocher, bebemos o resto de guaraná, assistimos Project Runway e de noitinha pedimos chinês. De noite, quando ela se foi, me deixou na minha prima, porque eu não ia aguentar uma noite naquela imundície. No domingo, depois de momentos de paz e Phoboslab: Z-Type, almocei deliciosa comida caseira e telefonei para minha mãe. Ela tinha acabado de sair de Guaramiranga. Eu tinha que sair JÁ da casa da minha prima e continuar JÁ a limpeza.
Eu nem tinha tocado no quarto da minha mãe. Era bolo, eram estrelas, papel crepom do presente da Contém 1g, sujeirasujeirasujeira. Varri tudo e o resto da casa mais uma vez, passei pano em todos os quartos e estava lavando a louça quando ela chegou. Mami me ajudou a finalizar a cozinha e a sala, a colocar os móveis no lugar rotineiro e organizar o que ia pra reciclagem, o que ia pro lixo, o que continuava na geladeira. Tirei as fitas gomadas que estavam sozinhas do teto, mas deixei os balões que se aguentavam grudados. Nós duas concordamos que foi maravilhoso, mas que outra dessas, nunca mais. Meus joelhos, meus pés, minhas coxas, minhas mãos, minhas costas e meu cabelo que o digam. Em certo momento da festa, Carol acariciou minha juba.
- Tu não passa creme no cabelo não?!
- Passo, né, Carol, mas depois de 4 horas de festafestafesta fica difícil encontrar algum rastro dele.
A noite foi tão maravilhosa que mal consegui estudar Eletromagnetismo ou mesmo me preocupar com a proximidade da prova, com todas as sensações ainda reverberando dentro de mim. Se eu abrir um pouco o coração e fechar os olhos da realidade, consigo fazer minha casa voltar a ser o que foi naquela noite, com uma luz fraca mas colorida, rosa por toda parte, músicamúsica e ainda por cima cheio de amor por meus amigos, consigo recuperar a atmosfera e mal me aguento de contentamento, tudo volta, a alegria, a liberdade, a loucura, a vontade de dançar e abraçar, girar, pular, gritar, toda a felicidade me completa. Foi uma noite maravilhosa, que me deixou mais de bem com a vida do que nunca. Estou cheia de amor por todos que compareceram, sinto nossos corações mais próximos e não entendo porque a vida tem que voltar ao ritmo normal. É simplesmente triste que o tempo passe, a prova de Eletromagnetismo puxou meus pés bem forte pro chão e estou aqui, já normal. Saudade dos dias de nirvana... Se eu pudesse entrar num loop daquela noite... eu acho que entraria.

domingo, 17 de abril de 2011

Celina

Eu tenho uma tia muito querida que é casada com um tio muito querido mas que nunca usou véu e grinalda porque o primeiro casamento desse meu tio foi um dos dois únicos casamentos em que eu estive. O outro foi de uma amiga minha, o que foi uma experiência louca e linda. Cheio de champagne, fotos, músicas clássicas e presentes - o meu foi uma sopeira particularmente amor em que você coloca velas para manter a refeição quente.
Essa minha tia não é velha, nem de idade nem de espírito. No entanto, ela ainda pegou a época das cartas. A época das correntes de endereço. Você inseria seu endereço por último numa lista de 10 e pegava o número 1 para você. Como obrigação, o prazer da troca de cartas. O endereço que ela pegou foi de uma menina chamada Celina que tinha 12 anos na época, assim como minha tia, e morava em Portugal. Elas trocaram cartas incessantemente durante anos. Eu sempre soube dessa história, desde que minha tia e sua filhinha entraram na minha vida, mas os detalhes só vieram aos meus ouvidos numa carona de quase uma hora de duração do alojamento da Ufal até o Centro de Convenções de Alagoas, para a abertura do meu encontro. (Eu estava acompanhada de uns meninos do PET, e simplesmente adorei dividir essa bela intimidade familiar com eles.) As meninas dividiram suas adolescências, suas faculdades, os primeiros empregos e amores. Os anos foram passando, elas começaram a usar as facilidades da internet, email, Skype, webcam, e mantiveram a amizade mais forte que um halterofilista sem nunca terem se abraçado. Minha tia nunca viajou a Portugal, nem Celina veio ao Brasil, e desde sempre tem esse oceano separando as duas.
No ano de 2006 eu fiz 15 anos, e pedi uma viagem a mamãe. Enquanto curtíamos ares internacionais, recebemos um email-notícia dos mais empolgantes: minha priminha, filha de minha tia, tinha nascido. Minha tia deu a ela o nome de Celina.
Celina é um amor de menina hiperativa, está aprendendo a ler e adora brincar com os animaizinhos que mamãe coleciona pela casa. Na nossa geladeira, temos um desenho que ela mesma fez, que na verdade é um arte meio pós-moderna, porque tem um lápis colado à pintura. Uma obra para olhos treinados.
Eu gosto de desenhar, e vivo por aí atrás de outras pessoas que também gostem e um pouco de ânimo para desenhar um pouquinho mais. Ano passado, lendo um blog de uma ilustradora brasileira, vi sobre sua mais recente publicação: um livro infantil chamado Celina, repleto de aquarelas.
O nome dela nem é comum, e mesmo assim tem um livro que se chama Celina, e é infantil, e as ilustrações são de uma ilustradora que faz aquarelas lindas. Quão encantador não é para um criança encontrar um personagem com quem se identificar integralmente, porque as duas meninas têm o mesmo nome? Só de assistir desenho animado as crianças já gritam: eu sou ela! Sou eu! Eu vou ser ela! Eu mesma nunca gostei da ausência de personagens de pele morena, ficava realmente complicado se identificar com alguém.
Faltei me corroer de ansiedade pelo lançamento que não saía nunca, não deu pra comprar no Natal, nem no ano novo e chegou abril, com os seis anos da nossa sobrinhainha favorita. Ontem, num dia em que eu surpreendentemente consegui fazer mais coisas no que tinha incluído na lista:

1) dei aula no cursinho da faculdade com minha bff mais recentemente adquirida depois de anos de ausência de novas amizades femininas, e fomos docemente chamadas de Dupla Dinamite,
2) almocei baião-de-dois com carne de sol,
3) fui numa loja de festas comprar apetrechos para o meu aniversário (que, depois de breves períodos de exaltação e nervosismo, já estou muito crente de que será um grande fiasco),
4) fui numa papelaria comprar mais apetrechos para o meu aniversário, e encontrei lindas canetas de riscar vidro, que eu evidentemente comprei,
5) fui numa livraria, onde eu não encontrei o livro Celina e
6) fui em outra livraria, onde encontrei o livro Celina!!!!

Então, pela primeira vez desde que eu tinha ficado sabendo da existência do livro, eu fiquei sabendo da história do livro. E eu cheguei à conclusão de que de forma alguma eu poderia dar aquele livro para a minha priminha linda, bela e ingênua de cinco, hoje seis, anos.
Pela sinopse, eu nunca imaginaria, mas o livro tratava de... de... de... leucemia. Celina, meiga Celina, tinha câncer. O livro não é ruim. Trata o assunto com carinho e sensibilidade, mas que sementinha ia brotar na cabeça da minha priminha? Alô, não. Compramos uma versão moderna de Rapunzel e um livro bonito da Cosac Naify, que outra tia minha daria de presente.

domingo, 10 de abril de 2011

Lisa See e suas meninas de olhos puxados

Eu não lembro como eu conheci a Lisa See. Eu lembro que ano passado eu passei uns bons meses obcecada com dois livros, que eu tinha visto em algum lugar e cismado que eram exatamente meu tipo de livro, que eu ia amar e ler, reler, reler, ler... Com um deles, eu não acertei, tanto é que está empacado na cômoda com vários outros. Mas Flor da Neve e o Leque Secreto foi uma outra dimensão, exatamente o que eu precisava e tão maravilhoso que seria impossível esperar uma história daquelas.
Jonathan Safran Foer já disse, "I always write out of a need to read something, rather than a need to write something", e eu estou totalmente de acordo. Se minhas últimas novidades são os meus momentos de ampla felicidade, é porque o que eu mais gosto de ler é sobre a vida sendo vivida. Eu gosto de pegar algo, ler e pensar: "Puxa, mas é assim que se deve viver." Ou então, "Isso sim é uma vida de verdade." Não precisa ser só felicidade, o charme é a não-estagnação. Ou a estagnação de forma ativa. É difícil explicar, é vida, se você lê, você vive, e é pra saber o que é.
Então ultimamente minha queda é por livros históricos. (Se todos eles se passam no oriente, vamos deixar a informação de lado, que mesmo assim não é pouco importante.) Vidas que impressionam. Adoro biografias, e acho ótimo esse movimento de quadrinhos autobiográficos, porque quando você pensa que aquilo aconteceu de verdade, o valor da vivência se torna infinito. Mas dá pra sentir uma pitada de falta de criatividade, onde estão as boas histórias, as histórias de verdade, de te deixar acordado no meio da noite sem conseguir dormir depois de terminar inúmeros capítulos no velho lenga-lenga "no próximo eu termino", ou "quando passar o sufoco eu vou dormir", e mesmo depois de ter apagado a luz ficar pensando e pensando e pensando a ponto de ligar a luz, pegar o livro e ler um pouco mais?
Eu digo: Lisa See tem isso. Ela não é minha autora de livros favorita, até por minha autora de livros favorita morreu mês passado e eu estou artisticamente de luto. (Diana Wynne Jones: uma linda vovó.) Só que, nessa recente explosão de amor pela vida, descobri a Lisa See e meu coração se acalentou. E descobri a China.
Flor da Neve e o Leque Secreto é, antes de tudo, uma história de amor. Nós acompanhamos Lírio em sua jornada pela vida, desde os dias de filha até os dias de arroz e sal. É uma história sobre mulheres. A sinopse no verso, tão enxuta, me encanta mesmo não tendo a menor graça:
China, século XIX. Para desvendar a vida e a amizade de duas mulheres é preciso abrir um leque e decifrar uma linguagem secreta: nu shu.

A autora, como eu, ama mulheres. Eu que, aliás, preciso me redimir. Em certo 8 de março coloquei uma tirinha do Quino que eu adorava por causa do trocadilho perfeito. A Mafalda não apenas não reconhece inúmeras participações femininas na história mundial como reduz a presença da mulher ao nível de um grão de areia repartido cem vezes. Lisa See faz diferente: com uma história de um tempo em que aparentemente as mulheres eram menores do que um formiga, quando seu único objetivo de vida era gerar um filho homem para continuar a linhagem, quando tinha seus pés trocidados para não fugir de casa, ela mostra a luta e a incrível presença feminina. Não me digam que as mulheres não são incríveis depois de perceber como, mesmo em situações absurdamente adversas e desfavoráveis, nós encontramos a felicidade. Não é esse o objetivo natural de todos?
O par de sapatos mais amor.
Durante esse século as chinesas seguiam o terrível costume de contenção de pés. Envolvendo os dedos em bandagens e quebrando os ossos, jovens meninas de 6 anos tinham seus pés reduzidos a dimensões menores do que nossas mãos. O sonho de toda garota era conseguir um pé perfeito, um par de lírios dourados, que representavam doçura, harmonia, boas maneiras, obediência ao marido e, sobretudo, a capacidade de prover um filho homem. Quando Lírio é criança, não tem nenhum valor, e sua mãe não a trata com amor. Uma filha representa um peso extra, uma boca a mais para alimentar que, assim que estiver na idade certa, sairá de casa para casar e raramente tornar a ver a família. Uma filha mulher representa, para os pais, uma pequena parasita que suga, suga, suga e então se muda com ingratidão. São os pés em formato de botões de lírio que poderão garantir uma união favorável.  "Quando menina, obedeça ao seu pai; quando esposa, obedeça ao seu marido; quando viúva, obedeça ao seu filho."
Nas casas chinesas, há um cômodo no andar de cima especialmente destinado às mulheres. Com seus pés contidos, elas pouco andam em vida, pois andar não é uma ação confortável. No segundo andar, estão confinadas e impedidas de fugir.
Mas Lírio encontra conforto e amor em algo mais poderoso que o casamento: a união laotong entre duas meninas, que serão velhas iguais por toda a vida e um pouco mais. Um relacionamento laotong é realizado por escolha, e não tem como único objetivo gerar filhos homens, e sim companheirismo emocional e fidelidade eterna. Resumindo: amizade feminina com dedicação exclusiva. Lírio e Flor da Neve combinam perfeitamente nos oito atributos, e a união entre as duas traz paz e alegria. O livro tem a cena entre amigas mais linda que já li, e vou deixá-los bem espantados resumindo tudo em uma palavra: cuspe. (Cuspe!!!!) É belíssima. (E sim, é cuspe mesmo!)
Mesmo assim, uma cena dessas jamais poderia ser lida sozinha, porque o mais incrível da Lisa See é a magia que ela tem em te envolver completamente na época, na história, nos sentimentos e nas sensações. Quando as duas estão grávidas, eu faltei morrer de angústia torcendo por um filho homem. No processo de contenção dos pés, estimulava com a mãe as meninas a andarem e quebrarem seus dedinhos, para que um botão de lírio substituísse suas pranchas. Mas porque eu ficaria feliz com...
O par de pés menos amor.
...isso? Pois eu fiquei. Fiquei porque o livro é maravilhoso e eu estava completamente envolvida na atmosfera inebriante daquela China de cômodos e roupas, homens e bandagens. O livro é lindo. A história segue além da morte de uma das meninas, e usa palavras tão doces que me sentia bebendo chá, serena e em paz.
Em uma mensagem escrita em nu shu, a linguagem secreta das mulheres, no leque-símbolo da amizade das meninas, beleza em cada combinação de palavras:

"Se sua família concordar, eu gostaria de ir visitá-la no décimo primeiro mês. Nós vamos sentar juntas, enfiar nossas agulhas, escolher nossas cores e conversar em voz baixa."

Eu continuei comprando. O próximo livro foi Garotas de Xangai, que a princípio me pareceu tão horrivelmente fútil e ao fim tão grandiosamente belo.
Dessa vez acompanhamos Pérola e May, numa história de amor de irmãs. Quem é a mais bela? Por qual das duas o mocinho é apaixonado? Quem é a mais feliz? São questões que movem o livro, junto com a Segunda Guerra Sino-Japonesa, a Segunda Guerra Mundial e o comunismo. Como nossas mocinhas, que em Xangai, a Paris da Ásia, eram lindas garotas que posavam para calendário com sorrisos cativantes e pele de seda, vão lidar com tantos problemas políticos e imigratórios, já que a única solução de tanta desgraça parece ser uma fuga para os EUA? As irmãs aprendem a agir, serem corajosas ou a se despedaçarem com tamanha infelicidade. Quando as palavras "estupradas" e "repetidamente" são utilizadas na mesma frase, você percebe que tem alguma coisa errada no mundo.
O enredo é complicadíssimo. Adoraria falar sobre como uma das meninas ficou grávida de quem não devia, ou como outra acabou se casando com quem menos esperava, ou como uma delas jamais conseguiu fazer coisa de marido e mulher por amor, mas eu teria que entregar alguma das reviravoltas anteriores, então fico quieta.
Embora nenhum dos livros seja muito feliz, Flor da Neve é doce perto de Garotas. Mesmo se passando em um período mais recente (século XX), as meninas continuam com pouca decisão sobre seus destinos. As guerras também não têm muita compaixão pela dignidade delas. A descrição da cultura chinesa é riquíssima, e incorporada de forma tão natural que você vai absorvendo pouco a pouco até se descobrir... não chinesa, mas quase. Eu fiquei com fome de jook, desejo de vestir cheongsams e vontade de ler mais e acreditar no horóscopo chinês. (Sou carneiro!)

domingo, 27 de março de 2011

Girls, galáxias e faça-você-mesmo

A faculdade continua maravilhosa, muito obrigada! Vocês têm que me perdoar pela minha extrema felicidade dos últimos meses, mas acontece que eu estou consciente de estar vivendo a melhor época da minha vida. Acabou toda aquela eterna dúvida, a rasíssima auto-estima, o monte de rabos de cavalo. Não me lembro a última vez que amarrei o cabelo pra ir pra faculdade! (Olha, no Ensino Fundamental os meninos roubavam minhas ligas para eu sair de cabelo solto nas fotos grupais! Eu ficava extremamente fula!) A gente vai se encontrando, enfim. (Já não era sem tempo!)
Junto a faculdade engredou em marcha 4, com cadeiras loucamente fascinantes (vivavivaviva retificador de tensão, vivaviva Lei de Gauss!), que só me fazem pensar: mas foi por isso que eu escolhi esse curso! Em resumo: tenho sido pessoa light que PRECISA de copo de café-com-leite depois do almoço para não ficar pescando na aula da tarde (esse copo inclusive só pode ser feito de ouro, porque o preço aumentou em 400% desde o começo do semestre, e eu quase desmaiei em risadas da última vez que o cara da cantina me falou que tava faltando dinheiro - o riso do desespero).
O francês, que há um ano era o momento mais alegre do dia (muitos gatinhos na turma), hoje se resume a um calo no pé, um apêndice do meu dia. Semana passada foi anormalmente doce, professora distribuiu revistas e a minha tratava justamente do universo. Desde o planetário estou toda fascinanda pela imensidão, só não viro fã porque não tenho tempo de ler nada. E na revista, além de explicar o nascimento e a morte das estrelas, a manchete mais boba: D'où vient l'harmonie des étoiles. Ao longo do texto, frases tontas: "Ces concentrations d'étoiles révèlent toutes une parfaite harmonie, comme si l'effet de la gravitation qui organise leur rapprochement voulait montrer la force invisible de son pouvour." Os cientistas, reconhecendo a beauté das estrelas.
Por último, eu fiz uma história de quadrinhos de uma página que você transforma num livrinho! São duas páginas para imprimir, uma com instruções e outra com a historinha. O nome é Roberto Carpa, e é sobre um peixe de aquário que tem um sonho. (E esse parágrafo tem mais palavras do que toda a história.) Organizei num pdf e coloquei para download. Aproveitem que é de graça, hihihihi!

domingo, 13 de março de 2011

Eu quero ser feliz antes de mais nada

Eu voltei de Maceió me queixando de dar trégua nas viagens por um tempo (ano novo em Barro Preto, Gabi aqui em janeiro, Salvador e então encontro do PET em Alagoas), mas depois de muitas enroladas, brigas e SMSs trocados, consegui garantir meu último carnaval no Brasil (por algum tempo) em... Salvador!!!!!
Tinha tudo pra dar errado: a ida e volta que teria de ser de busão (20 horas de viagem que acabaram sendo 22 horas e meia de muita vontade de usar o banheiro, refeições pela metade e quase nenhuma pasta de dente), a hospedagem na casa da mãe da minha meia-irmã por parte de pai (complicado!), a ausência de dinheiro para abadás e minha total falta de interesse por axé, blusas no meio da barriga e cerveja. Do meu (único e lindo) abadá só cortei a bainha, dispensei a cerveja mas voltei cantarolando uma penca de músicas.
Da Bahia eu digo: que terra linda! Que sotaque lindo! Que ladeiras íngremes! Todos os dias tínhamos que subir e descer uma ladeira digna de penhasco que deu o que suar. A praia é uma maravilha, azulzinha azulzinha, a onda imensa que encharcou todas as nossas coisas é que não foi tão maravilhosa. (Obrigada Iemanjá por não levar minha câmera, meu celular e meu cartão de crédito! Ainda que a câmera, que me aguentava desde 2003, tenha levado duas quedas depois e no momento eu esteja impossibilitada de olhar as fotos porque ela parou ligar.)
Do carnaval fica a tristeza de ter acabado... Só aprendi a gostar na faculdade, antes era só um feriado prolongado para acessar internet dial-up mais barato, morgar pela casa e assistir filmes, mas agora me dá uma dor no coração de pensar que vou passar uns aninhos sem carnaval. Mando beijo para: Filhos de Gandhy, princípe maluco e Patrícia, negra linda que fez a trança mais beautiful no meu hair. (A trança evidentemente ficou detonada com a última noite de pipoca com Ivete e Chiclete, a praia maravilhosa de Imbassaí no dia seguinte, onde as mesas das barracas ficam dentro d'água, e a viagem enfadonha até Fortaleza. 22 horas e meia para ir aceitando a dura realidade de que acabou.)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Acidentes acontecem, meu bem

Isso foi tão realmente engraçado que passamos o resto do dia em alvoroço! Mamãe está viajando desde a madrugada de terça-feira, então eu contei a doideira por email. Ela respondeu minha pergunta de pra onde ela tinha viajado mesmo (Brasília) e acrescentou que "Assim o PET fica cheirosinho."
Desde o primeiro ano de Engenharia Elétrica o aluno já aprende a ter medo do quinto semestre, e eu cheguei agora tremendo de medo e com a obrigação de passar em todas as cadeiras se ainda quiser curtir meu intercâmbio na França. Eu seeeei que as aulas ainda não começaram de verdade, que isso mal é um aperitivo, mas todo dia é uma diversão, todo dia tem um incidente cômico, e todas as cadeiras são incrivelmente fascinantes. Estou é com dó do apelido de "Quinto dos Infernos", disparado vai ser o meu semestre favorito, enfim acabaram as cadeiras de empurrar com a barriga e todo o conteúdo que vi até agora foi maravilhoso. Só besteiras, mas besteiras máximas. Viva coordenadas esféricas, viva série de Fourier, vivaaaaa! (Isso não significa que eu esteja estudando regularmente, porque toda noite tem alguma outra coisa pra fazer... Desenhar, filme bom nos Telecine, livro da Joyce Carol Oates, comer bolo de chocolate, etc, etc...)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A última vez que usei saia na faculdade

Eu amo essa saia, mas ela é da C&A e um tanto fuleira pra ser usada fora do ambiente familiar, então nunca tive grande costume de usá-la pra sair. Hoje me empolguei no look e peguei o ônibus me sentindo bonita. Quando desci já recebi o primeiro tapa na cara. (Tem também uma história envolvendo um pano de chão que curiosamente tinha formato de saia e eu.) Essa é a minha rotina. Não, eu não sei como eu aguento esses meninos. Eu amo grávidas. Se um dia tive vontade imensa de ser mãe, hoje tenho pavor de engravidar cedo e perder a vida, então fico só admirando as barrigas. Tenho dois ou três vestidos com um corte meigo que dá a leve impressão de que eu estou grávida, e os meninos sempre mangam ("vestido de grávida"). Essas férias, depois de muito tempo sem nos vermos, fui pro PET com um vestido inteiramente não-grávida. Por acaso o papo do vestido de grávida veio à tona e comentaram: "E esse não é o vestido não?" "Não, né!" "E o que me diz dessa barriguinha aquiiiii?" Aí eu ajeitei a postura. Como já bem definiram: "Só tem gente mansa nesse PET!"
Fiquei um tempão estatelada no chão antes de criar coragem, morrendo de rir (junto com todos ao meu redor, rir para não chorar). Fizeram parede pra mim e acho que consegui não dar brecha.

P.S.: Taís Araújo está grávida de cinco meses e eu estou torcendo pro bebê dela nascer prematuro, que aí cai perto do meu aniversário!!!!!!
P.P.S.: Talvez o quadrinho tenha ficado um pouco confuso. Peço desculpas, mas estou abandonando os padrões e entrando numa fase mais experimental. É inevitável, a desorganização me chama.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Copas, bolhas e sono

Viajei para Salvador, onde passei dias maravilhosos de igrejas belas, praia quente, comida divina (vivas ao bobó de camarão!) e leituras profundas. Depois emendei com Maceió no Encontro Nordestino do PET (ENEPET), e foram quatro dias que mais pareceram semanas, sendo que mal dormimos 10 horas ao todo. Aproveitei minutos ociosos para fazer um ou outro rabisco dos melhores momentos. Das imagens abaixo vocês tiram como eu ainda sou uma criança feliz.

1) Noite do luau, que nós passamos no busão por causa do apagão;
2) Noite da festa brega, que teve direito a bolhas de sabão, perucas voadoras e cerveja a 1 real;
3) Hora do banho é hora da MEGA BOLHA DE SABÃO!
4) Pontuação de alguns dos nossos milhares de jogos de Copas.

As histórias da viagem nem são tão infindáveis, mas todas são tão maravilhosas que estou em nirvana comigo mesma e com a vida que venho levando. Por mim, ainda contaria e recontaria as histórias com o pessoal que viajou comigo por uns bons dias, para rir e rir novamente. A parte triste é ter voltado pra essa cidade, voltado pra Fortaleza e pra vida, pras aulas da faculdade que começam semana que vem e pras aulas de legislação, todas as noites das 18h às 22h. E que tristeza. Não sei como nossas aulas não terminam em prantos todos os dias, porque a cara da minha professora é passar vídeos aterrorizantes. Muitos. Vídeos de acidentes, vídeos de vítimas. Muitos. Vídeos em que o lado esquerdo do peito da vítima foi totalmente arrancado pelo automóvel e é possível ver o coração que ainda bate, bate, bate. É possível ver o rosto da vítima, e ver seus olhos que olham, olham, olham, tontos e desatentos. Quando o vídeo termina, o coração ainda está batendo.
O domingo foi o único dia sem atividades, totalmente livre para passeio e diversão. Encaramos o busão e fomos pras piscinas naturais, nadamos com peixes e pegamos um bronzeado legitimamente alagoano. Na volta pra Ufal, o caminho mais comprido possível, com duração de uma hora e meia, passava por favelas e até saía da cidade (não tivemos nem a desculpa de estar "conhecendo a verdadeira Maceió"). Por pouco não perdemos o ônibus para Fortaleza, e nos acabamos nas cadeiras aliviados, exaustos do estresse mental e estafados do sol da praia. Eu mesma bem queria ter capotado de vez, mas acontece que tenho uma tia em Maceió que foi quem me emprestou colchão, lençol e toalha pra usar no alojamento e me levou para comer sururu no sábado à noite. Ela já tinha levado tudo de volta e me arranjado um casaquinho para não passar frio na viagem. Não passei frio nos braços, e devo isso a minha linda tia, mas na hora do banho tinha decidido vestir o meu short favorito e não foi a melhor decisão para as minhas pernas. Não dormi, inquieta de frio. O menino sentado ao meu lado, que eu não conhecia e continuo não conhecendo, estava de lençol, travesseiro, mp3 e celular. Eu tinha meu baralho. Mas ele, ah, ele tinha o melhor ombro do mundo. Que ombro! Passei a tarde paquerando. O ombro. Aquilo sim era um ombro de verdade.
Viajamos às 16h. Quando já era noite, paramos para jantar (cuscuz, leite, açúcar e nescau para mim, sopa pros meninos), jogamos Copas adoidadamente e depois juntamos um grupo maior para A Cidade Dorme (que jogo mais maravilhoso!). Por volta da meia-noite, eu estava cheia de energia para jogar jogar jogar e falar falar falar, mas o resto do ônibus nem tanto. Resignada, voltei pro meu assento. Mal acabo de me sentar, menino-que-lembrem!-continuo-não-conhecendo me pergunta:
- Tu quer lençol?
Quer atitude mais doce? É claro que eu queria!!!!!!!! Mil corações para ele! Vesti o casaquinho e cobri minhas pernas com o tecido que ele estava usando para se cobrir todo. Conversei um bocadinho com minha bff do outro lado do corredor, enquanto a menina que dormia entre nós se virava, em sono pleno, pra ela e pra mim com cara de "me deixem dormir!". Quando nós a acordamos, desistirmos de conversar e fomos tentar dormir. Eu consegui? Não! Eu queria tagarelar, berrar, rir, não fechar os olhos. Ainda mais sem muito conforto. Quando o sono bateu o suficiente para eu estar realmente grogue mas não necessariamente sonolenta, eu criei coragem para dar o verdadeiro passo para o sono da beleza. Pedi o ombro ao menino do meu lado. Ele deu.
Que sono. Dormi seis horas direto, não dormia seis horas direto há dias, e vocês não tem noção de como o ombro do rapaz era macio. Realmente macio! De uma maciez docemente macia! Dormi tão bem!!! Quando fizerem travesseiros da mesma maciez que deus fez aquele ombro, ninguém mais se levantará da cama. Afirmo com base na minha própria vivência: aquilo sim era um ombro de verdade.
Resultado: no café-da-manhã, muitas pessoas me abordaram.
- E eu acordei no meio da noite, e me virei pra Jana pra ver como ela tava, e ela estava lá, dividindo lençol e dormindo no ombro! Eu nem sabia que eles se conheciam! Fiquei pensando: eita, mas o que foi que aconteceu enquanto eu dormia?!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Gabi Aqui

Gabilu é minha amiga gêmea que conheci pela internet e gosta de vir pra minha casa em janeiro passar alguns dias dormindo no meu quarto, indo comigo pra faculdade e sendo grogue no sofá. Ela vem e lê todos os meus livros bons que eu passei o ano anterior todinho pra ler. Ilustrei nossas aventuras a duro custo mas me divertindo em pensar que melhor imagem resumiria nosso dia. Coloquei tudinho no Flickr, 20 fotos iluminadas pela janela do meu quarto. Leiam leiam leiam! (Eu tento simular um trabalho profissional, mas não consigo, é impossível, e peço desculpas a todos que têm falsas esperanças.) A verdade é que terminei minha agenda-diário de 2010, preciso de um ano de intervalo antes de retomar o hábito, mas fiquei morrendo de saudade de falar da minha vida e peguei esse caderno sem pauta (usado).
Não tenho muito tempo, vou viajar em 15 minutos, mas deixo um vídeo para alegrar a quarta-feira de cinzas de qualquer um: RAQUEL E SUA DANCINHA MILAGROSA DO BOLICHE. Funciona. E foi utilizada para fins malévolos. (O mundo não é puro. Como já disse Janailson/Jurema... "Não, Jajas, eu acredito que o mundo seja bom sim. Mas eu também acredito que sempre tem um filho da puta (sic) pra estragar tudo". Sorry pelo palavrão, quis manter palavras originais.)


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ganhando e perdendo em 2010

Eu não faço lista com vitórias e derrotas sérias porque senão ou eu vou ficar realmente triste com a falta de vitórias ou eu vou ficar realmente triste com as incontáveis derrotas. (Kidding kidding kidding!)
Uma das coisas que mais me deixou tremendo de felicidade nesse ano que passou foi minha aprovação no intercâmbio, garantindo dois anos só de vitórias! (Ou só derrotas, pelas histórias que contam das Écoles Centrales...) Fico doida de pensar nos lugares incríveis, nas matérias loucas e no frio maluco. E vou poder ir ao Festival de Angoulême!!! Aiaiai, tantos quadrinhos...
A história do corte de cabelo foi osso, eu nunca senti tanta raiva na minha vida... Pior, como eu ainda sou pacifista (leia-se: mole), não disse nada pro homem. Vou morrer com isso entalado na garganta.
Para 2011 a única coisa que eu realmente queria era pouca (quem me dera nenhuma) burocracia, da qual já sei que não vou escapar...