
Semana passada fui com mamãe a um cinema onde as cadeiras ficam no mesmo degrau e o ar-condicionado só funciona nas portas. Depois de muito enrolar até chegar o horário da sessão, nos aproximamos da bilheteria e pimba! eu comento:
– Imagina se o filme não tá passando? Ia ser um terror de ruim!
É só falar. Fomos na quarta, o filme tinha passado terça.
Acabou entrando em cartaz em outro cinema, e lá fomos nós depois de um dia cansativo e à base de xarope, doença batendo nas duas. Paguei o equivalente a três quilos de milho pra pipoca num combo pequeno de pipoca e refrigerante e nos sentamos bem na hora em que terminava o trailer de (500) Dias com Ela.
Aí começou o filme.
Eu sou tão volúvel. Quero muito morar no Japão algum dia. Quero muito trabalhar com defuntos alguma vez na vida.
A Partida conta uma história de tradições. São muitos os silêncios que dizem tudo. E isso me encanta tanto, me encanto tanto com o clássico, o épico, talvez por vivermos nessa sociedade moderna que insiste em desconstruir tudo o tempo todo, inovar, atualizar. Acho o velho tão bom, tão suficientemente impactante. Nem é como se eu quisesse morar em outra época, porque se eu morasse ia gostar do velho correspondente e por aí vai.
O herói perde o seu emprego bonito mas não-mais-tão-poético de violoncelista numa orquestra e vai se virar com um anúncio de jornal que diz “ajudamos a partir” (hmm, uma empresa de viagens?) mas bem queria ter dito “ajudamos os que partiram” (defuntos! morte! minha nossa!). E lá vai ele, preparar os mortos sim, brancos e fedorentos, para o caixão, lavar o corpo, trocar a roupa, maquiar, tudo tão cerimonioso e incrivelmente tocante para a família que observa, silenciosa ou chorosa. No fundo, o Japão sempre tradicional, sempre cheio das estações, dos montes e dos telhadinhos típicos.
Eu podia ter ficado pensando em morte, mas na hora pensei em vida (frase dói em mim de tão clichê, mas sou incapaz e não penso em mais nada, nem quero pensar), em todas as coisas bonitas que eu preciso fazer na vida, em todos os empregos incríveis que quero ter. Quero trabalhar com mortos! Ser trocadora de ônibus! Garçonete! Caixa de supermercado! São empregos que parecem mecânicos mas certamente têm tanto a acrescentar, não sei, me encantam. Esses cálculos integrais são loucos mas cansam tanto, não quero só isso pra minha vida, deus me livre.
Semana passada me inscrevi num curso de bombeiro voluntário.
P.S.: O filme ganhou Oscar de melhor filme estrangeiro esse ano! E só agora nos cinemas, como não adorar?
P.P.S.: Meu senso de organização de ideias tem sim estado pior.