ou Desculpa amigos lindos que me aguentaram maluca até altas horas
ou Obrigada amigos lindos que endoidaram comigo na minha festa pagã
A Terra tem mais de 6 bilhões de habitantes e pode ter certeza de que você é só mais um nessa multidão. Por mais que você ganhe o prêmio Nobel, ou que a foto da sua formatura esteja na parede da sua faculdade, existem mais outros 6 bilhões de pessoas que, assim como você, têm braço, perna, respiram e comem.

O problema reside em: eu fico querendo que seja o dia mais feliz do ano e isso não depende só de mim. Depende do que as outras pessoas estão dispostas a fazer por mim, mas será que eu posso ficar parada apenas esperando que os outros tornem o meu dia especial? Quando você já fez mais de dez aniversários, você percebe que não. Nos primeiros é simples porque, em teoria, você ainda é incapaz de organizar uma festa, de propôr brincadeiras, e suas tias, o palhaço, a produtora do buffet se encarregam disso. Talvez um ano você consiga uma festa surpresa, no outro ganhe o presente mais inesperado de todos, com o cartão mais sentimental, brega e belo, mas e no ano seguinte?
Ano após ano eu passo o dia 20 de abril em alvoroço, coração na boca, esperando que algo surpreendente me aconteça para que não seja só mais um dia no meu calendário. Nos dias anteriores, eu conto para todo, todotodotodotodo mundo que eu vou fazer aniversário, sem querer me decepcionar com algum esquecimento. No dia, eu fico de bico calado, para receber os resultados - sempre felizes. Apesar de tudo, eu gosto de espotaneidade, e quero que as pessoas se lembrem simplesmente porque gostam de mim.
Em 2009, marquei um piquenique e fiz do meu aniversário de 18 anos uma despedida da infância. Foi maravilhoso, apesar de toda uma enorme ameaça de chuva e dos inúmeros gatos no parque (que na verdade só coroaram a comemoração com sua doçura). Em 2010 não foi tão doce, estava cheia de expectativas que não se cumpriram, mas só tenho a agradecer a mamãe, que fez da festa na praia um dos momentos mais repletos de satisfação da minha vida. Eu passei semanas teimando que queria uma fogueira, lutamos atrás de uma barraca de praia que aceitasse atear fogo correndo o maior risco de causar um incêndio em todas as barracas (de palha!), e por fim conseguimos que um funcionário juntasse alguns gravetos e acendesse um foguinho. Mas mamãe tinha tido a ideia do século que encheu meu coração de alegria: pediu a todos que pegassem dois pedaços de papel e escrevessem uma virtude minha em um deles e um defeito no outro. Formamos uma roda e todos leram seus papéis. O do defeito, joga pra fogueira! O da virtude eu guardei com carinho no coração e numa caixa.

Sexta-feira (22) foi a festa mais maluca que eu poderia imaginar. A festa mais maluca que eu poderia imaginar. Na sexta-feira da paixão. Desculpa, mas foi. Eu marquei a data e nem percebi. A ideia era: meu pai, que veio de Salvador só para ficar comigo breves instantes antes que eu me mandasse para o exterior, pegava o avião às 14h da sexta, então só nessa data eu estaria livre para me divertir. Na sexta-feira seguinte (ontem) foi prova de Eletromagnetismo, então a semana pós-aniversário é semana-eletromag, então era bom ter o domingo livre para estudar loucamente. Assim, o sábado fica para a ressaca da festa, que fica pra sexta.
No sábado anterior eu fui numa loja de festas, e ajudei mamãe a estourar o cartão dela. Eu nunca consegui me despedir da infância no aniversário de 18 anos, e fiz a festa naquele paraíso de besteiras lindas. Sexta-feira minha bff chegou cedinho e me ajudou a:
fazer lembrancinhas (que chamamos carinhosamente de Kit Ressaca),
encher todas de ar para parecer que estavam cheias de coisa,
fazer cachorrinhos (a marca de qualquer festa na minha casa, incluindo os aniversários das gatas),
encher uma centena de balões (pode confiar, estava escrito na embalagem),
pregar metade deles no teto,
colocar as luzinhas piscantes de Natal pela casa,
colocar chantilly no bolo,
arrumar a playlist da night e
me maquiar (com a sombra que ela mesma me deu de presente).
A casa foi toda modificada para caber adolescentes dançantes (acabou sendo para caber a aniversariante dançante, mas amo todos que cederam aos puxões de "Dança comiiiiiiiiigo!"), velas foram posicionadas para finalizar a iluminação da casa e uma mesa foi posta ao lado do sofá com canetinhas, papéis e envelopes, à espera de pessoas amantes de Jana e seus cartões. No corredor de entrada, coloquei nossos calçados para incentivar todo mundo a também tirar os seus. Na parede do corredor de entrada, um cartaz repleto de bigodes, com o título: Escolha o seu bigode! O quarto da minha mãe, território proibido. A mesa redonda, com bolo, brownie e infinitas aranhinhas. Na cozinha, os drinks, com o cardápio feito verbalmente por mim: A Jana É Linda (vodca e fanta), A Jana É Maravilhosa (red fruits e gelo), etc, etc. (Não tem et coetera não, gente, eu fui impedida de continuar com minha lindeza pelos convidados e suas risadas de dó de mim.)

Não tente imaginar a casa às cinco horas da manhã. Não tente. Nas filmagens, o momento em que minha prima volta para buscar a chave do carro e sair rapidinho é único. Porque ela não precisou imaginar a casa, ela viu. No vídeo, Carol diz: "Não teve briga de bolo. A Janaína não começou uma briga de bolo." E vocês ficam com esse sentimento.
As pessoas foram indo embora, outras foram ficando, uma me ajudou a limpar (MUITO OBRIGADA, LEONARDO!), e a casa estava medianamente apresentável quando mamãe chegou de manhãzinha, para pegar umas coisas e logo sair.

Eu nem tinha tocado no quarto da minha mãe. Era bolo, eram estrelas, papel crepom do presente da Contém 1g, sujeirasujeirasujeira. Varri tudo e o resto da casa mais uma vez, passei pano em todos os quartos e estava lavando a louça quando ela chegou. Mami me ajudou a finalizar a cozinha e a sala, a colocar os móveis no lugar rotineiro e organizar o que ia pra reciclagem, o que ia pro lixo, o que continuava na geladeira. Tirei as fitas gomadas que estavam sozinhas do teto, mas deixei os balões que se aguentavam grudados. Nós duas concordamos que foi maravilhoso, mas que outra dessas, nunca mais. Meus joelhos, meus pés, minhas coxas, minhas mãos, minhas costas e meu cabelo que o digam. Em certo momento da festa, Carol acariciou minha juba.
- Tu não passa creme no cabelo não?!
- Passo, né, Carol, mas depois de 4 horas de festafestafesta fica difícil encontrar algum rastro dele.
