
Então ultimamente minha queda é por livros históricos. (Se todos eles se passam no oriente, vamos deixar a informação de lado, que mesmo assim não é pouco importante.) Vidas que impressionam. Adoro biografias, e acho ótimo esse movimento de quadrinhos autobiográficos, porque quando você pensa que aquilo aconteceu de verdade, o valor da vivência se torna infinito. Mas dá pra sentir uma pitada de falta de criatividade, onde estão as boas histórias, as histórias de verdade, de te deixar acordado no meio da noite sem conseguir dormir depois de terminar inúmeros capítulos no velho lenga-lenga "no próximo eu termino", ou "quando passar o sufoco eu vou dormir", e mesmo depois de ter apagado a luz ficar pensando e pensando e pensando a ponto de ligar a luz, pegar o livro e ler um pouco mais?
Eu digo: Lisa See tem isso. Ela não é minha autora de livros favorita, até por minha autora de livros favorita morreu mês passado e eu estou artisticamente de luto. (Diana Wynne Jones: uma linda vovó.) Só que, nessa recente explosão de amor pela vida, descobri a Lisa See e meu coração se acalentou. E descobri a China.
Flor da Neve e o Leque Secreto é, antes de tudo, uma história de amor. Nós acompanhamos Lírio em sua jornada pela vida, desde os dias de filha até os dias de arroz e sal. É uma história sobre mulheres. A sinopse no verso, tão enxuta, me encanta mesmo não tendo a menor graça:

A autora, como eu, ama mulheres. Eu que, aliás, preciso me redimir. Em certo 8 de março coloquei uma tirinha do Quino que eu adorava por causa do trocadilho perfeito. A Mafalda não apenas não reconhece inúmeras participações femininas na história mundial como reduz a presença da mulher ao nível de um grão de areia repartido cem vezes. Lisa See faz diferente: com uma história de um tempo em que aparentemente as mulheres eram menores do que um formiga, quando seu único objetivo de vida era gerar um filho homem para continuar a linhagem, quando tinha seus pés trocidados para não fugir de casa, ela mostra a luta e a incrível presença feminina. Não me digam que as mulheres não são incríveis depois de perceber como, mesmo em situações absurdamente adversas e desfavoráveis, nós encontramos a felicidade. Não é esse o objetivo natural de todos?
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O par de sapatos mais amor. |
Nas casas chinesas, há um cômodo no andar de cima especialmente destinado às mulheres. Com seus pés contidos, elas pouco andam em vida, pois andar não é uma ação confortável. No segundo andar, estão confinadas e impedidas de fugir.
Mas Lírio encontra conforto e amor em algo mais poderoso que o casamento: a união laotong entre duas meninas, que serão velhas iguais por toda a vida e um pouco mais. Um relacionamento laotong é realizado por escolha, e não tem como único objetivo gerar filhos homens, e sim companheirismo emocional e fidelidade eterna. Resumindo: amizade feminina com dedicação exclusiva. Lírio e Flor da Neve combinam perfeitamente nos oito atributos, e a união entre as duas traz paz e alegria. O livro tem a cena entre amigas mais linda que já li, e vou deixá-los bem espantados resumindo tudo em uma palavra: cuspe. (Cuspe!!!!) É belíssima. (E sim, é cuspe mesmo!)
Mesmo assim, uma cena dessas jamais poderia ser lida sozinha, porque o mais incrível da Lisa See é a magia que ela tem em te envolver completamente na época, na história, nos sentimentos e nas sensações. Quando as duas estão grávidas, eu faltei morrer de angústia torcendo por um filho homem. No processo de contenção dos pés, estimulava com a mãe as meninas a andarem e quebrarem seus dedinhos, para que um botão de lírio substituísse suas pranchas. Mas porque eu ficaria feliz com...
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O par de pés menos amor. |
Em uma mensagem escrita em nu shu, a linguagem secreta das mulheres, no leque-símbolo da amizade das meninas, beleza em cada combinação de palavras:
"Se sua família concordar, eu gostaria de ir visitá-la no décimo primeiro mês. Nós vamos sentar juntas, enfiar nossas agulhas, escolher nossas cores e conversar em voz baixa."
Eu continuei comprando. O próximo livro foi Garotas de Xangai, que a princípio me pareceu tão horrivelmente fútil e ao fim tão grandiosamente belo.

O enredo é complicadíssimo. Adoraria falar sobre como uma das meninas ficou grávida de quem não devia, ou como outra acabou se casando com quem menos esperava, ou como uma delas jamais conseguiu fazer coisa de marido e mulher por amor, mas eu teria que entregar alguma das reviravoltas anteriores, então fico quieta.

4 comentários:
Assim que eu for na livraria, vou procurar. E, com certeza, vou comprar :}
oi! achei teu blog nos links da irena e achei muito querido teus desenhos haha. Meu nome também é Jana e concordo contigo sobre "é exatamente assim que se deve viver". As chinesas realmente tiveram uma vida difícil (ainda tem diga-se de passagem). Obrigada pela indicação de livro ele me leva aquele filme "balzac e a costureirinha chinesa" :). Bejos!
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