segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Como eu costumo lidar com provas

Sábado tive que ir ao colégio para fazer uma adorável prova... para aquela infeliz turma do ITA.
Mas, espere, não ligue agora, tem mais! Se eu tirasse o primeiro lugar na prova, ganharia uma bolsa integral, o que significa 600 reais que eu poderia exigir da minha mãe mensalmente para comprar todos os livros que eu quisesse, todas as caixas de lápis-de-cor duas cores 48 cores que eu quisesse, todas as coisinhas de cabelo que eu quisesse e mesmo todos os pacotes de figurinhas de Ratatouille que eu quisesse, não só 4 porque o dinheiro está curto. YAY!
Além disso, nós enfim sairíamos do aperto aqui em casa e poderíamos pedir uma pizza grande com borda catupiry sem sentir nenhum gostinho amargo. Um sonho, eu sei!
Agora tente convencer uma criancinha que mal entrou na puberdade e já está completamente adaptada ao clima de férias (apesar de só ter passado uma semana, tempo curtíssimo para adaptar-se às aulas) disso. Impossível. A coisa simplesmente não entrou na minha cabeça. Livros! Filmes alugados e até com direito a multa! Hum... não colou. Pensei na minha mãe, em quão feliz ela ficaria quando eu dissesse "Mãe. Eu sou demais. Beije meus pés, agora você não precisa mais pagar o colégio, hohoho!" Pensei n'A Gata, que poderia ter a oportunidade de comer Whiskas Sachê o mês todo, pensei em tudo.
Mas minha cabecinha não entendeu. Acho que depois de tanto não-encorajamento da minha mãe aos meus estudos, eu simplesmente não consigo fazer algo pensando em prêmios, recompensas, só penso na satisfação. E, sinceramente, tirar primeiro lugar numa prova que começa às 8 horas de um sábado não me dá nenhuma satisfação.
Enfim...
Fui adiando os estudos ("Mamãe vai ficar feliz se eu estudar... Mamãe vai ficar felicíssima se eu estudar e conseguir... Primeiro lugar... Opa, hoje é dia de Project Runway, vou assistir!") e no fim só fui estudar na sexta-feira, véspera da prova. Cheguei a falar à mamãe que se eu tirasse um bom lugar nós ganharíamos um bom desconto, mas do primeiro lugar não falei nada. Eu não ia conseguir e não podia decepcioná-la. Imagina a cabecinha dela pensando na linda e ensolarada semana de férias que eu tive para estudar, mas preferi ficar desenhando arco-íris e que estava lhe custando 600 reais mensais? Sem chances de eu falar, tá.
Sexta-feira chegou e eu me enfiei nos estudos. Primeiro peguei o papelzinho com o roteiro de estudo, e, espere!, como assim aqui TEM TUDO O QUE EU JÁ ESTUDEI NA MINHA VIDA? Peguei todos os livros de Matemática que eu tinha e comecei... Matrizes, determinantes, sequências, AAAAAHHH!!!
Peguei o telefone.
- MÃE, eu não agüento mais estudar!!!
- Ah, filha, então não estude.
Falei "Mas, mãe, e se eu não conseguir uma boa colocação?", mas queria dizer "Mãe, e se eu não tirar o primeiro lugar? Vamos perder a bolsa integral!"
- Ah, você consegue.
- Sem estudar não consigo, né!
- Consegue.
- Mãe. Tem uma coisa que eu não te contei.
Eu estava me corroendo de culpa de não ter contado aquilo.
- O primeiro lugar ganha uma bolsa integral.
- Ah, você tira o primeiro lugar.
- Não, mãe!, sem estudar não tiro! Você não vai ficar mal de eu ter perdido essa oportunidade, tendo tido uma semana inteirinha para me dedicar a isso?
- Ah, filha, eu já te sustentei até aqui, não tenho problema com mais um ano.
- Sério?
- Aham.
- Compra biscoito para mim?
20 minutos depois ela me ligou chamando para ir ao cinema. Não tinha nenhum filme bacana então alugamos Bambi.

E a prova...? Foi boa, obrigada. Dá para conseguir um 42º lugar, eu acho. Mas não sei se tem candidatos suficientes para chegar ao 42º...

Um comentário:

Irena Freitas disse...

Deixa eu te dizer uma coisa: a sua mãe é muito legal. A minha nunca falaria uma coisa legal do tipo: "você passa mesmo se não estudar". Ela me deixaria louca, isso sim.
E, ahhh... O que eu faria com $600! Muitos DVDs de Ratatouille e lápis de cores 48 cores!