domingo, 16 de dezembro de 2007

Mouthcelinos por minuto

Essa é uma história relativamente velha, mas que eu nunca escrevi, só verbalizei, então achei melhor escrevê-la agora, antes que eu me esqueça dos detalhes.
Meu antigo professor de Redação se chama Marcelino e tem o estranho hábito de dizer "Tudo tranqüilo?!" mais de três vezes em uma aula. Porém, além disso, eu logo notei outro hábito estranho... Ou, melhor dizendo: tique. Sempre que havia uma mínima pausa em suas falas, ele fazia um movimento único com a boca... Uma técnica de junção de lábios com compressão das abas laterais inimitável!
Comentei com amigas e elas concordaram comigo, depois de encará-lo por alguns minutos e vê-lo fazer A Coisa inúmeras vezes e não conseguir parar de rir com isso.
Sabe, eu acho que é desnecessário dizer que desde esse dia nós não conseguimos mais prestar atenção na aula dele, porque olhar para ele mais de 10 segundas significava ter um ataque de riso dos brabos.
Um dia decidimos que estava na hora de contar aquilo. Ele fazia várias vezes, mas será que existia um padrão naquela boca tenebrosa?
Pegamos um relógio com o amigo mais submisso e nos pusemos a contar, com o cronômetro do lado... 1, 2, 3... 10! 10 bocas por minuto. 10 :I/min, já que ":I" representa inteira e verdadeiramente A Boca. Decidimos contar de novo, para ter certeza, e o resultado foi o mesmo. 10 :I/min. Nova unidade no Sistema Internacional.
Então chegou a nossa Feira de Literatura, e percebi que nosso querido Marcelino estava, além de um pouco alegrinho, segurando uma câmera. Não resisti, hihi!
- Ei, professor, bate uma foto comigo?, aí depois você me manda por e-mail!
- Claro, bora lá!
- Mas tem que ser fazendo uma cara. Uma cara que todo mundo no meu grupinho adora, é uma coisa meio única assim, sabe?
- Beleza, qual é a cara?
Disse "Assim" e fiz a boca. Ele tentou imitar mas não conseguiu, eu quase tive uma crise riso, hahahaha! Então ele se virou para conversar com outra garota e eu, na minha ingenuidade besta, não resisti e abri o jogo. Tinha uma amiga me olhando inquisidoramente, tá?
- Professor... Na verdade... Esseéumtiqueseu, você nunca notou?
Mas ele pareceu não me escutar e nós batemos a foto. Mais tarde eu ainda cheguei ao cúmulo de usar o próprio celular dele para ligar para uma amiga para delirar sobre a tal foto.
As férias de julho passaram e ainda assim o danado não me mandou a foto. Eu, que passei horas me gabando sobre a incrível foto batida, estava passando por mentirosa até para mim mesma. Quando as aulas recomeçaram e o Marcelino apareceu fazendo seus mouthcelinos (adorável nome dado À Boca), minha reação involuntária foi reclamar a foto. "Professor! Professor! E a foto que você prometeu?!" Ele ficou vermelho e inventou a desculpa esfarrapada de que tinha salvado tudo em CD. Eu caí, mas continuei insistindo.
Certo dia, ele parou no meio da aula e ficou olhando para mim vermelho, como que no segundo que precede uma forte crise de riso. A turma ficou confusa e perguntou o que era.
- Não, é que sempre eu olho para ela eu morro de vergonha!
- Por quê?
- Uma foto que nós batemos e eu nunca mandei.
- Uma foto?
Sabe, eu estava QUASE vendo ele falando sobre a incrível cara do meu grupinho que eu forcei ele a fazer na foto. Tipo, imagina, na frente de 42 adolescentes na puberdade, ele vai e cria um motivo de intensa zoação que, ainda por cima, foi originado por mim. Minha crise de riso foi tamanha que eu fui ao banheiro logo em seguida.
Os meses passaram e eu arranquei um "Você vai pro 3º ano com essa foto, não se preocupe!", mas nada de foto.
Quando os dias de aula já estavam se esvaindo, eu percebi que chegara o momento, e enfiei minha câmera na bolsa na véspera da última aula de Redação.
Sorte minha que a aula dele era a última, então pude esperar todos os curiosos irem embora para bater a foto em segredo (apesar de tudo o que vocês já leram, eu tenho pudor, viu!). Quando só meus amigos se encontravam na sala, chamei uma amiga e lhe entreguei a câmera (que já vinha batendo várias fotos toda a manhã) para bater A Foto. Ela inventou de fazer uma filmagem antes da foto e 10 segundos depois PUF! A bateria acabou.

Um comentário:

Irena Freitas disse...

Eu tinha um professor com um tique assim! Mas eu tenho uma foto muito bem sucedida com ele e o seu tique, HAHAHAHAHA. Pode me invejar!