A primeira vez que eu percebi que existia toda uma pessoa atrás de mamãe desconhecida por mim foi quando fiz minha primeira redação sobre cotas para negros. O tema era super simples, só pedia para você dar sua opinião, sem mais dramas. Feito todo o rascunho, perguntei à mamãe se queria ouvir. Depois de um Claro, li e fiquei envergonhada de percebê-la levemente decepcionada comigo. Eu era contra as cotas, achava que admitir a existência de negros, e não pessoas, era o preconceito em seu auge, mamãe, fortemente a favor, e, depois de pedir acanhada que ela me dissesse seus motivos - quase implorando que me fizesse mudar de idéia -, não sei mais minha opinião.
Eu conheço os seus tiques, a expressão que ela faz quando quer que a gente ache que ela tá acompanhando a conversa mas na verdade não tá entendendo nada, as frutas que come de manhã, vamos freqüentemente ao cinema juntas, só não faço a mínima idéia da história de amor dela com meu pai nem de porque eles jamais se casaram. Outro dia, comentando o pôster do filme Apenas uma vez (que tem a frase Quantas vezes encontramos a pessoa certa? em cima do título e é genial, tá), ela me confessou:
- Duas.
- Duas o quê?
- Já encontrei a pessoa certa duas vezes.
E, num arroubo de curiosidade tímida, perguntei:
- Quem?
Ela não respondeu.
Não é que nossa relação seja ruim, não, por favor, não pensem isso, mas eu só conheço a faceta mãe dela. Na viagem à serra reencontrei a Gema profissional, e meu peito estufou de orgulho. Agora eu quero conhecer a mulher.
(Mas eu tenho que perguntar, e, talvez com receio de perder meu ideal utópico de amor verdadeiro, tenho medo.)
3 comentários:
Mãe é um ser incomum. É como se ela deixasse de ser uma pessoa para ser exclusivamente e incondicionalmente...uma mãe!
Noutro dia peguei a minha contando que já tinha feito curso de contabilidade. E você pode imaginar a minha cara de boba por nunca ter imaginado isso!
Pois te digo que nem tente descobrir, pois é por causa de uma mulher que não se chama mão digna pra mim que fez eu perder meu utópico amor verdadeiro... Deixe assim, é melhor.
Beijosss
É muito estranho ler um post desses porque eu sempre tive uma relação bem aberta com minha mãe. Ela me conta muita coisa sobre a vida dela, eu vivo perguntando!
Boa sorte nessa fase de conhecer o outro lado da sua mãe! beeijo.
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