quinta-feira, 12 de março de 2009

De portas abertas para a gente se amar

Hoje de manhã, na aula de inglês, a gente conversava sobre bulls, Ilha de Marajó, bater e correr, até que a professora falou:
– Ahhh, mas é porque ninguém aqui é do interior, puxa, todos filhos do asfalto!
E ela estava tão pesarosa e tão certa de que viver na cidade era uma droga e uma perda de experiências, que eu, orgulhosa e feliz, não me aguentei:
Well, we have our own pleasures!
Ohh, yes, the internet, etc! – e revirou os olhos.
Quando foi de tarde, na aula de Introdução à Engenharia Elétrica, o professor, depois de muito falatório com pouco nexo, foi falar da Brasília. Eu não entendo de carros, não entendo de cães e não entendo de celulares, mas vou tentar repetir aqui o que eu lembro, então não é confiável, quem sabe ao menos apreciável. Foram seis anos até ela ficar pronta, e três até o protótipo ficar pronto. Era 1970, os criadores eram jovens, indomáveis, destemidos! E durante seis meses eles rodaram todo o Brasil atrás de falhas no carro. Todo e qualquer estado do Brasil, os vários climas, os vários buracos, os vários asfaltos, a quatro rodas, 183 dias no acelerador, muitas vezes no prego. O professor falou e foi só uma menção, nada exatamente notável. Para ele, que já visitou todos os estados do Brasil, todos os países da América Latina e 42 ilhas do Caribe! Da região Sudeste eu só conheço São Paulo, e do Nordeste só digo que conheço de verdade dois estados além do meu, paro por aqui. Então não deu pra não ficar imaginando e sonhando com o que esses caras fizeram numa viagem empolgante dessas, que deve ter sido um trabalho tão com cara de férias que resetou todo o nível de estresse.
Será que viveram episódios que depois repetiram e aumentaram várias vezes, em volta de uma fogueira e com um violão? E dormiram de luz acesa, porque não podiam apagar as estrelas, ou bateram numa porta e pediram Por favor, só um copo de leite que eu tenho problema de insônia, e acabaram ficando no quarto de hóspedes? Mas também podiam dormir no carro. Dar caronas! Colocar a cabeça pra fora, sentir o vento da autoestrada no rosto na velocidade que o test drive exigisse! Tomar banho de chuva em cima do capô, banho de sol, banho de lua.
Mas seis meses não passam de 24 semanas, e eles tiveram que voltar e dividir com o resto da equipe todos os problemas que descobriram no carro. Foi tanta complicação que ainda teve um monte de anos repensando o projeto. Para, no fim, como o veículo era inteiramente brasileiro e não devia nenhum royalty à Alemanha, ser cortado de produção e substituído pelo Gol, cuja criação durou incontáveis seis meses. Não teve bobagem de protótipo, não teve viagens loucas mundo afora, toda intempérie e desgaste foi simulado em computador.
Não é um papo céus-odeio-a-tecnologia-desligue-o-computador-e-vá-ler-um-livro, apesar de eu preferir os tempos em que havia bondes elétricos e a nossa televisão era a janela, mas...
Certo, é só um pouquinho.
Bom. Mamãe está querendo um carro novo e já tenho uma idéia de qual não será o premiado.

Um comentário:

Deborah disse...

ah, que bonito isso seria. test drive de verdade, hein?